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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Movimentos Heréticos no Período Antigo



Por Alderi Souza de Matos


Ebionismo


O termo ebionitas deriva de uma palavra hebraica que significa "pobres" e designa uma seita de judeus cristãos ascéticos que sobreviveram à destruição de Jerusalém no ano 70, indo para o leste do rio Jordão. Sendo judaizantes, criam na salvação pela obediência à lei, rejeitavam os escritos de Paulo e davam ênfase às cartas de Tiago e Pedro. Para eles, Jesus era um profeta humano, o novo Moisés; era o filho de José que, ao ser batizado, foi adotado como Filho de Deus por causa de sua obediência à lei. Por serem poucos e estarem isolados, não subsistiram por muito tempo.


Gnosticismo

O gnosticismo foi uma filosofia religiosa altamente especulativa e sincrética que floresceu no século II, reunindo elementos mitológicos, helenísticos, cristãos e outros. Consistia acima de tudo numa doutrina de salvação. Na sua base estava um dualismo radical que colocava em oposição o mundo espiritual e o mundo material. O Deus supremo era o criador das realidades espirituais, incluindo a alma humana. Desse Deus procedia, por emanação, uma hierarquia de divindades inferiores, a última das quais, por vezes denominada no Pleroma (o mundo espiritual), as almas ficaram aprisionadas em corpos materiais. A salvação consiste na libertação do espírito imortal aprisionado na matéria, para que retorne ao seu mundo original divino. Para isso é necessário o conhecimento (em grego, gnosis), ou seja, a compreensão da situação humana. Esse conhecimento especial teria sido transmitido por Jesus a alguns de seus seguidores e agora era possuído somente pelos gnósticos, que o comunicavam aos seus iniciados (esoterismo).

O profundo desprezo pela matéria fez que os gnósticos representassem uma ameaça para várias convicções cristãs: a doutrina da criação e do governo divino sobre o mundo, o entendimento da salvação, a natureza da pessoa e obra de Cristo e a ressurreição do corpo. O gnosticismo não era um movimento homogêneo, mas muito diversificado. Havia várias escolas gnósticas, como a de Cerinto, na Ásia Menor, e as de Carpocrates, Basílides e Valentino, em Alexandria. Esse último foi para Roma, sendo excluído da igreja por volta de 155. Ensinou que o Cristo divino desceu sobre o homem Jesus em seu batismo e o abandonou antes da sua paixão. Sua missão foi trazer a gnosis, para que por ela os espíritos humanos pudessem retornar ao Pleroma de onde vieram.

Docetismo

O docetismo foi uma antiga manifestação de tendências gnósticas em certos setores do cristianismo primitivo. Em virtude do seu desprezo pela matéria, os docetistas negavam que Cristo tivesse um corpo real, dizendo que ele possuía apenas uma aparência de corpo. Daí o termo "docetismo", do verbo grego dokéo, "parecer". Esse ensino, que questionava a encarnação e a morte de Cristo na cruz, é claramente combatido tanto na literatura joanino do Novo Testamento (cf. 1Jo 4:2s; 2Jo 7) quanto nas cartas de Inácio de Antioquia.

Marcionismo

O marcionismo derivou seu nome de Marcião, também conhecido como Márcion, filho de um bispo de Sinope, na província do Ponto, no norte da Ásia Menor. Por volta do ano 144, ele chegou a Roma e passou a divulgar idéias, sendo expulso da igreja.

Influenciado por conceitos dualistas e gnósticos, Marcião estabeleceu um contraste radical entre o Antigo e o Novo Testamento: o primeiro representa o reino deste mundo e a lei (retribuição); o segundo representa o reino celestial e o evangelho (graça). Para ele, Jeová o criador do mundo material, é um ser imperfeito e vingativo; o Deus verdadeiro - o Pai de Jesus - é amoroso e perdoador. Portanto, cristãos nada têm a ver com o Antigo Testamento e sua divindade. O Deus verdadeiro perdoa a todos e assim toda a humanidade será salva. A salvação é do espírito, não do corpo.

Marcião foi o primeiro a elaborar um cânon do Novo Testamento. Para ele, as Escrituras cristãs deviam incluir somente o evangelho de Lucas e as cartas do apóstolo Paulo às igrejas, sem as pastorais. Os marcionitas formaram uma igreja, que subsistiu por alguns séculos.


Montanismo

O montanismo foi um movimento de natureza carismática ou entusiástica - o primeiro da história da Igreja - surgido na frígia, Ásia Menor, pouco após a metade do século II. Seus líderes eram Montano, um cristão que alegava ser o instrumento do Paráclito (o Espírito Santo), e duas profetizas, Priscila e Maximila.

Denominado "Nova Profecia" por seus adeptos, o movimento visava preparar o caminho para a iminente volta de Cristo e o milênio. A Igreja devia ter uma vida moral rigorosa e sofrer martírio. Por entenderem que eram dirigidos diretamente pelo Espírito, os montanistas se inclinavam a desprezar a Igreja institucional, atraindo a oposição dos seus líderes. Sob pressão intensa, o movimento sobreviveu no norte da África até o século V e na Frígia até o VI.

Monarquianismo

O monarquianismo não foi propriamente um movimento ou grupo organizado, mas um entendimento sobre a doutrina cristã de Deus. Os monarquianos eram fortes defensores da unidade do Ser Divino (monarquia ou monoteísmo) e queriam evitar que a noção de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo resultasse em triteísmo (três deuses). Nesse esforço, eles acabaram adotando duas posições: alguns negaram a divindade de Cristo, afirmando que só o Pai é Deus; outros afirmaram a divindade de Cristo e do Espírito, mas negaram que havia distinções pessoais no ser de Deus.

A primeira posição é conhecida como "monarquianismo dinâmico" ou adocionismo: o homem Jesus foi adorado por Deus como filho e recebeu o poder divino (dynamis). Foi essa a posição dos ebionitas e de Paulo de Samosata, bispo de Antioquia (c. 260), para quem o Verbo era apenas a razão, o poder ou a sabedoria de Deus que habitou no homem Jesus desde a sua concepção.

A segunda posição, denominada "monarquianismo modalista", afirmava que Deus é uma só essência e uma só pessoa, com três "modos" ou manifestações sucessivas - Pai Filho e Espírito Santo. Esse ensino também é conhecido como "sabelianismo", por ter sido defendido no início do século III por um certo Sabélio. Uma variante conhecida como "patripassianismo", abraçada por indivíduos como Práxeas e Noeto, afirmava que o Pai sofreu e morreu na cruz.

Com o passar do tempo, a Igreja acabou condenando como antibíblicas essas posições.


Fonte: Alderi Souza de Matos, Fundamentos de Teologia Histórica, Mundo Cristão, 2008, pp 38 - 41.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O que é Confessionalidade?


Por Inez Augusto Borges


INTRODUÇÃO

O que é confissão? O que é ser confessional? O que é confessionalidade? As duas primeiras palavras são encontradas em nossos dicionários de língua portuguesa e também em dicionários bíblicos. Entretanto, confessionalidade é um neologismo, ou seja, uma palavra recente para qual não existe ainda uma definição gramatical rigorosa e não é encontrada nos dicionários. A palavra confessionalidade tem sido frequentemente utilizada no contexto acadêmico e aparece quase sempre associada a um adjetivo como, por exemplo, "confessionalidade presbiteriana", "confessionalidade luterana", etc.

Sendo assim, por que gastar tempo refletindo sobre este tema? Qual a relevância da compreensão sobre o significado dele? Será que a confessionalidade é algo realmente digno de ocupar o precioso tempo de estudo semanal em uma escola dominical? Ao final da lição, você poderá responder, por si mesmo, essas questões. Vamos ao estudo.

I. DEFINIÇÃO DE TERMOS

A. Confessionalidade e seu contrário

Para entender o termo confessionalidade será necessário entender o seu oposto - a laicidade, laicismo ou laico. Essas palavras, que também não são comuns em nosso vocabulário cotidiano, tem o sentido de autonomia em relação às confissões religiosas. O movimento pelo laicismo surgiu no século 16, no período do renascimento cultural. Tratava-se de uma busca pela ausência do controle religioso na política, nas artes, nas ciências e na educação.

A ideia fundamental era que os cientistas, educadores, artistas e políticos deveriam trabalhar sem favorecimento ou perseguição decorrentes de ideias religiosas. A religião deveria se reservada para o espaço da vida privada e não poderia interferir nos negócios públicos. A existência dos Estados laicos, nos quais existe a liberdade de expressão da diversidade religiosa é uma conquista do movimento laico. O oposto do Estado laico é o Estado confessional,  ou seja, o Estado ou país que impõem uma crença religiosa aos cidadãos. Grande parte dos países muçulmanos são exemplos dessa confessionalidade nacional.

A laicidade é entendida como secularismo. No âmbito político, a palavra adquire sentido de neutralidade, ou de conferir tratamento igualitário a todas as religiões e também ao ateísmo. O movimento laico prima pelo não envolvimento do religioso nos assuntos de governo, da mesma maneira que requer o não envolvimento do governo nos assuntos religiosos.

Embora o movimento laico seja importante para evitar favoritismo ou perseguições por razões religiosas, o próprio movimento descambou em um radicalismo confessional, pois acabou por negar a validade da religião e, inclusive, tornou-se perseguidor e destruidor dos valores religiosos ou confessionais. Em nome da laicidade, passou-se a construir uma nova cosmovisão fundamentada na ideia de autonomia do ser humano.

Francis Schaeffer afirma que muitos dos grandes problemas sociais do século 20 estão ligados à destruição da família, à violência nas escolas públicas, à pornografia, permissividade e outros problemas morais resultantes da ausência de valores absolutos e ao apego a esta visão de mundo, segundo a qual "a realidade final é matéria ou energia impessoal posta na goma presente pelo acaso impessoal" (A Igreja no século 21, Cultura Cristã).

O que Schaeffer denuncia é a transformação do laico em confessional. Segundo ele, a tentativa de libertar as diversas esferas públicas do poder religioso criou uma nova religião - a religião humanista - e esta se tornou tão ou mais opressora do que as formas anteriores de opressão religiosa. De acordo com Schaeffer, não há possibilidade de existência da atitude laica, pois ou se estará confessando que a fé religiosa é parte da vida, das decisões e das atitudes diante de todas as situações da vida, ou se estará confessando que a vida é uma série de fragmentações, uma colcha de retalhos, na qual a religião ocupa apenas uma posição periférica.

B. Confissão

A palavra confissão está relacionada, no grego a um grupo de palavras (homologia) utilizadas com finalidade jurídica e comercial. Entre seus significados, destacam-se: concordar, reconhecer, admitir, declarar e prometer. O termo era primeiramente utilizado em um contexto de julgamento, no qual um homem concorda com a declaração de outro, concede ao outro o reconhecimento de que esse outro está correto, está falando a verdade e tem, portanto, o direito de atribuir a punição merecida. Confessar significava concordar que a penalidade seria justamente atribuída e se comprometer a cumpri-la. Confessar implicava assumir consequências.

Ao reconhecer uma dívida e prometer que o pagamento será feito, a palavra possuía um sentido jurídico e comercial. Admitir que é devedor não teria sentido se não houvesse disposição de assumir as consequências desse reconhecimento e efetuar o devido pagamento.

O emprego religioso da palavra confissão é posterior à sua utilização no contexto dos tribunais. Neste caso, o homem, por meio de juramento, entra em um relacionamento de aliança com a divindade. Assim, o termo confissão é transferido de uma confissão solene de mau procedimento diante de um tribunal, para a confissão de pecado diante da divindade. Na Septuaginta, tradução grego do Antigo Testamento, o conceito de confissão é utilizado cerca de 120 vezes, geralmente como tradução de palavras hebraicas que significam louvar e confessar. Às vezes se emprega com termos que devem ser entendidos conjuntamente, ou seja: dar louvor, reconhecer com louvor, confessar com louvor, adorar com cânticos (2Sm 22.50; Sl 7. 17; Sl 18. 49-50), cantar louvores, agradecer e celebrar (1Cr 16. 4; 29. 13; Sl 106.47).

C. Confissão e confessionalidade

Podemos agora relacionar a palavra confessionalidade com o que foi dito sobre confissão. Confessionalidade é um conjunto de crenças, princípios, símbolos e práticas que se explicitam na vida de uma pessoa ou instituição. É a atitude de assumir e confessar como valioso um conjunto de valores, princípios de conduta e também respostas para os questionamentos da vida. Consideremos que "confissão" seja aceitação de algo como verdadeiro e valoroso, bem como a proclamação ou declaração de que esse "algo" é significativo e digno de ser aplicado à nossa experiência de vida. Sendo assim, a confessionalidade terá então o sentido de um estilo de vida fundamentado nos valores escolhidos para direcionar a prática pessoal, familiar, profissional, social e espiritual.

A confessionalidade se aplica à vida do indivíduo da mesma forma como pode ser aplicada a uma instituição educacional, religiosa, filantrópica esportiva, etc.

II. SER HUMANO É SER CONFESSIONAL

Assumimos, neste contexto, que a palavra confessionalidade é um substantivo abstrato, assim como bondade, beleza, vaidade, vivacidade, etc. Substantivo abstrato é aquele que nomeia algo que depende de outro algo para se manifestar ou existir. Por exemplo, ninguém pode ver a beleza como tal, pois somente podemos contemplá-la em algo que é belo. Por isso, beleza é um substantivo abstrato. Do mesmo modo, a confessionalidade não pode ser vista de forma desvinculada de um ser confessional.

Podemos fazer uma aproximação ao termo, enfatizando que confessionalidade designa a tendência do ser humano em sua busca de sentido e de explicação para sua própria existência, assim como para a existência do universo e a origem e sentido da vida. O ser humano é um ser confessional. Isto significa que todo ser humano confessa (acredita e afirma) algo sobre si mesmo e sobre o universo.

A confessionalidade é, portanto, a impossibilidade da neutralidade. O ser humano não consegue deixar de formular questões ou aceitar impassivelmente, respostas que são impostas a ele. A confessionalidade está ligada à própria racionalidade humana. Por se tratar de um ser racional, que precisa justificar sua própria existência, é possível admitir que todo ser humano possui um conjunto de crenças que constituem sua confessionalidade. A confessionalidade está ligada à identidade. Aquilo que confesso como sendo verdadeiro para mim define quem eu sou, com quem me relaciono e com quem eu rompo.

III. TODA CONFESSIONALIDADE TEM CONSEQUÊNCIAS

Francis Schaeffer afirma que os humanistas compreenderam muito bem a impossibilidade da neutralidade. Eles reconheceram, antes que os cristãos modernos, que a forma como interpretamos a realidade produz resultados na realidade. Não é possível viver como se Deus existisse e se importasse com tudo o que você faz e, ao mesmo tempo, viver como se ele se importasse apenas com a parte religiosa da sua vida. A visão laica da realidade se transformou em uma confissão radical sobre a não existência de Deus, sobre a centralidade e supremacia da razão humana. Dessa forma, segundo Schaeffer, o homem se perdeu. A confessionalidade materialista não dá conta de explicar o ser humano, pois o reduz a muito menos do que ele é. Ao afirmar que a realidade final é apenas "matéria-e-energia-ao-acaso" esta confissão materialista não encontra a mínima sustentação necessária para desenvolver um conceito de dignidade humana, de sociedade justa, de legalidade ou justiça. Tudo se relativiza. Em lugar de reconhecer a dignidade do ser humano, essa visão de mundo o vê apenas como um animal intrinsecamente competitivo sem nenhum princípio ou motivação que vá além da seleção natural.

Em termos educacionais, por exemplo, a laicidade, ou não confessionalidade, tem sido o clamor dos países que se reconhecem como cristãos. Embora a liberdade de expressão religiosa seja a indispensável base da liberdade e justiça social, na maioria dos países cristãos europeus e nos Estados Unidos da América, a autonomia da educação em relação à religião resultou em proibição do ensino religioso nas escolas e, por fim, à expulsão de Deus dos textos e das práticas escolares.

O ensino a respeito da evolução leva crianças, adolescentes e jovens a considerarem a si mesmos e aos demais seres humanos como destituídos de qualquer dignidade intrínseca à condição humana. Afinal, que dignidade pode haver em seres que são vistos apenas como semelhantes a brutos irracionais?

IV. A CONFESSIONALIDADE CRISTOCÊNTRICA

A confissão cristã deve ter Cristo como centro, como Senhor e Salvador. Colossenses 1. 13-20 é uma maravilhosa confissão de fé no Cristo vivo, que estava com o Pai no princípio da criação, que sustenta todas as coisas, e que se deu por todos nós, na cruz do calvário.

O reconhecimento dessas verdades espirituais não pode ser algo apenas intelectual. É obra do Espírito Santo de Deus. É ele quem nos convence do pecado, da justiça e do juízo. E é também ele quem nos faz lembrar de tudo o que o Senhor Jesus nos ensinou por meio de sua Palavra registrada nos Evangelhos e também por meio de seus atos de amor e santidade.

Confessar que Jesus Cristo é tudo o que o texto de Colossenses nos ensina que ele é, exige mudança de vida, exige transformação da mente, dos sentimentos e do comportamento em relação a Deus, ao próximo e em relação a nós mesmos e aos nossos dons e responsabilidade perante Deus e os homens. A confessionalidade cristã exige prática, ou seja, exige prática que imite a Cristo.

Os cristãos primitivos tinham o adequado conhecimento do que era a confissão cristã. Confessar que Jesus Cristo é Senhor implicava negar que César é senhor. Implicava disposição para enfrentar os riscos da confissão. Implicava também em aceitar as responsabilidades decorrentes dessa confissão. Os cristãos entenderam que deveriam ser servos uns dos outros, que não deveriam temer a morte, pois haviam recebido a promessa da vida eterna em Cristo Jesus. Paulo confessou que preferia a morte, para estar com Cristo. O resultado da vida prática confirmando a fé é um bom exemplo do que era entendido como confissão. Os primeiros cristãos diziam que Jesus Cristo é Senhor. Então, viviam como servos desse Senhor e não como donos de sua própria vida, de seu próprio tempo, de seu próprio dinheiro. Eles sabiam que prestariam contas a este Senhor. Eles confessavam ser uma família, assumiam que eram irmãos em Cristo. Então, viviam em comunidades, repartindo entre si o pão, o abrigo, o ensino, o sofrimento e as alegrias. Eles se regozijavam na comunhão e no partir do pão. Eles oravam juntos. Eles serviam juntos.

CONCLUSÃO

A confessionalidade cristã, conforme expressa na Bíblia, exige assumir publicamente a crença de que Deus é Criador do universo, que o ser humano foi criado por Deus para o louvor da sua glória, mas que pecou e é réu de morte, digno do inferno, tendo necessidade de redenção que somente pode ser propiciada pela graça e misericórdia reveladas no sacrifício de Jesus Cristo em nosso lugar.

Este conjunto de crenças é, na verdade, uma só. Dela deve derivar uma postura diante da vida, que tem consequências não apenas para a salvação eterna, mas para a vida diária, para os relacionamentos, para a escolha profissional e conjugal, etc. Se cremos que nossa vida foi planejada por Deus para resultar em glória ao seu próprio nome, não podemos vivê-la como se fôssemos animais racionais em competição com outros, sem um propósito mais elevado para nossa existência. 

APLICAÇÃO

Que tal reavaliar sua confessionalidade e sua prática diária? Como você pode se descrever como alguém que é confessional? Que Deus dirija você em um novo posicionamento em todos os contextos nos quais ele mesmo o tem colocado, para que você seja sal da terra e luz do mundo. Amém.


Fonte: Nossa Fé [O que é Isso?], Revista do Aluno, Parte 2, Lição 11, Cultura Cristã.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Ao Cometer Suicídio, o Cristão Perde a Salvação?

Por Miguel Núñez


Esse tem sido um dos temas mais controversos ao longo dos anos, e que lamentavelmente muitos têm respondido de uma maneira emocional e não através da análise bíblica. Aqueles de nós que crescemos no catolicismo sempre ouvimos que o suicídio é um pecado mortal que irremediavelmente envia a pessoa para o inferno. Para muitos que têm crescido com essa posição, é impossível despojar-se dessa ideia.

Outros têm estudado o tema e, depois de fazê-lo, concluem que nenhum cristão seria capaz de acabar com sua própria vida. Há outros que afirmam que um cristão poderia cometer suicídio, mas perderia a salvação. E ainda outros pensam que um cristão poderia cometer suicídio em situações extremas, sem que isso o conduza à condenação.

Em essência temos, então, quatro posições:

  1. Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno (posição Católica Tradicional).
  2. Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria.
  3. Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação.
  4. Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua salvação. 
A primeira dessas quatro posições foi basicamente a única crença até a época da Reforma, quando a doutrina da salvação (Soteriologia) começou a ser melhor estudada e entendida. Nesse momento, tanto Lutero como Calvino concluíram que eles não podiam afirmar categoricamente que um cristão não poderia cometer suicídio e/ou o que se suicidava iria ser condenado. Na medida em que a salvação das almas foi sendo analisada em detalhes, muitos dos reformadores começaram a fazer conclusões, de maneira distinta, sobre a posição que a Igreja de Roma tinha até então.

No fim das contas, a pergunta é: O Que a Bíblia diz?
Começamos mencionando aquelas coisas que sabemos de maneira definitiva a partir da revelação de Deus:

  • O ser humano é totalmente depravado (primeiro ponto do TULIP calvinista). Com isso, não queremos dizer que o ser humano é tão mal quanto poderia ser, mas que todas as suas capacidades estão manchadas pelo pecado: sua mente ou intelecto, seu coração ou emoções, e sua vontade.
  • O cristão foi regenerado, mas mesmo depois de ter nascido de novo, devido à permanência da natureza carnal, continua com a capacidade de cometer qualquer pecado, com a exceção do pecado imperdoável.
  • O pecado imperdoável é mencionado em Marcos 3:25-32 e outras passagens, e a partir desse contexto podemos concluir que esse pecado se refere à rejeição contínua da ação do Espírito Santo na conversão do homem. Outros, a partir dessa passagem citada, atribuem a Satanás as obras do Espírito de Deus. Obviamente, em ambos os casos está se fazendo referência a uma pessoa incrédula.
  • De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida de outra pessoa, como fez o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação.
  • O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados, presentes e futuros (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18)
  • O anterior implica que o pecado que um cristão cometerá amanhã foi perdoado na cruz, onde Cristo nos justificou, e fomos declarados justos sem de fato sermos, e o fez como uma só ação que não necessita ser repetida no futuro. Na cruz, Cristo não nos tornou justificáveis, mas justificados (Romanos 3:23-26, Romanos 8:29-30)

A salvação e o ato do suicídio
Dentro do movimento evangélico existe um grupo de crentes, a quem já aludimos, denominados Arminianos, que diferem dos Calvinistas em relação à doutrina da salvação. Uma dessas diferenças, que não é a única, gira em torno da possibilidade de um cristão poder perder a salvação. Uma grande maioria nesse grupo crê que o suicídio é um dos pecados capazes de tirar a salvação do crente. Nós, que afirmamos a segurança eterna do crente (Perseverança dos Santos), não somos daqueles que acreditam que o suicídio ou qualquer outro pecado eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.

Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão jamais cometerá suicídio. No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem bíblica que possa ser usado para categoricamente afirmar essa posição. Alguns, sabendo disso, defendem sua posição indicando que na Bíblia não há nenhum suicídio cometido pelos crentes, enquanto aparecem vários casos de personagens não crentes que acabaram com suas vidas. Com relação a essa observação, gostaria de dizer que usar isso para estabelecer que um cristão não pode cometer suicido não é uma conclusão sábia, porque estamos fazendo uso de um argumento de silêncio, que na lógica é o mais débil de todos. Há várias coisas não mencionadas na Bíblia (centenas ou talvez milhares) e se fizermos uso de argumentos de silêncio, estamos correndo o risco de estabelecer possíveis verdades nunca reveladas na Bíblia. Exemplo: não aparece um só relato de Jesus rindo; a partir disso eu poderia concluir que Jesus nunca riu ou não tinha capacidade para rir. Seria esse um argumento sólido? Obviamente não.

Gostaríamos de enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé cristã comete suicídio, teríamos que nos perguntar antes de ir mais além, se realmente essa pessoa evidenciava frutos de salvação, ou se sua vida era mais uma religiosidade do que qualquer outra coisa. Eu acho que, provavelmente, esse seria o caso da maioria dos suicídios dos chamados cristãos.

Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos podem se deprimir tanto a ponto de quererem morrer. E se esse cristão não tem um chamado e um caráter tão forte como o desses homens, pensamos que pode ir além do mero desejo e acabar tirando a própria vida. Nesse caso, o que Deus permitir acontecer pode representar parte da disciplina de Deus, por esse cristão não ter feito uso dos meios da graça dentro do corpo de Cristo, proporcionados por Deus para a ajuda de seus filhos.

Muitos acreditam, como já mencionamos, que esse pecado cometido no último momento não proveu oportunidade para o arrependimento, e é isso o que termina roubando-lhe a salvação ao suicidar-se. Eu quero que o leitor faça uma pausa nesse momento e questione o que aconteceria se ele morresse nesse exato momento, se ele pensa que morreria livre de pecado. A resposta para essa pergunta é evidente: Não! Ninguém morre sem pecado, porque não há nenhum instante em nossas vidas em que o ser humano está completamente livre do pecado. Em cada momento de nossa existência há pecados em nossas vidas dos quais não estamos nem sequer apercebidos, e outros que nem conhecemos, mas que nesse momento não temos nos dirigido ao Pai para buscar seu perdão, simplesmente porque o consideramos um pecado menos grave, ou porque estamos esperando pelo momento apropriado para ir orar e pedir tal perdão.

A realidade sobre isso é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por nossos pecados passados, presentes e futuros, como já dissemos. Portanto, o mesmo sacrifício que cobre os pecados que permanecerão conosco até o momento de nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio. A Palavra de Deus é clara em Romanos 8:38 e 39: “Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Note que o texto diz que “nenhuma outra coisa criada”. Esta frase inclui o próprio crente. Notemos também que essa passagem fala que “nem as coisas do presente, nem do porvir”, fazendo referência às situações futuras que ainda não vivemos. Por outro lado, João 10:27-29 nos fala que ninguém pode nos arrebatar da mão de nosso Pai, e Filipenses 1:6 diz que “aquele que começou a boa obra em vós, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus”. Concluindo:

  • Se estabelecemos que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que não conceber que potencialmente ele poderá cometer o pecado do suicídio?
  • Se estabelecemos que o sangue de Cristo é capaz de perdoar todo pecado, ele não cobriria esse outro pecado?
  • Se o sacrifício na cruz nos tornou perfeitos para sempre, como diz o autor de Hebreus (7:28, 10:14), não seria isso suficiente para afirmarmos que nenhum pecado rouba a nossa salvação?
  • Se até Moisés chegou a desejar que Deus lhe tirasse a vida, devido à pressão que o povo exerceu sobre ele, não poderia um paciente esquizofrênico ou na condição de depressão extrema, que não tenha a força de caráter de um Moisés, atentar contra a sua própria vida de maneira definitiva?
  • Se não somos Deus e não temos nenhuma maneira de medir a conversão interior do ser humano, poderíamos afirmar categoricamente que alguém que deu testemunho de cristão durante sua vida, ao cometer suicídio, realmente não era um cristão?
  • Baseados na história bíblica e na experiência do povo de Deus, poderíamos concluir que o suicídio entre crentes provavelmente é uma ocorrência extraordinariamente rara, devido à ação do Espírito Santo e aos meios de graça presentes no corpo de Cristo.
  • Pensamos que o suicídio é um pecado grave, porque atenta contra a vida humana. Mas já estabelecemos que um crente é capaz de eliminar a vida humana, como o fez Davi. Se eu posso fazer algo contra alguém, como não conceber que posso fazê-lo contra mim mesmo? Essa é a nossa posição.

Como você pode ver, não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o suicídio e a salvação. Tudo o que podemos fazer é raciocinar através de verdades teológicas claramente estabelecidas, a fim de chegar a uma provável conclusão sobre um fato não estabelecido de forma definitiva. Portanto, quanto mais coerentemente teológico for meu argumento, mais provável será a conclusão que eu chegar. Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade”. Minha recomendação é que você possa fazer um estudo exaustivo, outra vez ou pela primeira vez, acerca de tudo o que Deus disse sobre a salvação, que é muito mais importante que o suicídio, que é quase nada.


***

P. S: A cada dia que se passa, cresce o número de suicidas. Não cremos que o suicídio seja a melhor forma de resolver as situações difíceis da vida. Se por acaso esse sentimento lhe perturbe, recomendamos que solicite ajuda pastoral o quanto antes. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ateísmo



Por Augustus Nicodemus


Rev. Augustus Nicodemus falando sobre Ateísmo no Seminário JMC, na 1ª Semana Teológica de 2013.




Fonte: Youtube, Seminário JMC

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Facebook e o Sétimo Mandamento


Por Rev. Kenneth Wieske

 
Uma mulher entrou no meu escritório alguns dias atrás. Ela estava quase-vestida, usando apenas sutiã e calcinha.
Só tem uma mulher no mundo que tem o direito de estar comigo vestido assim: minha esposa. Mas esta mulher que entrou no meu escritório alguns dias atrás, não era minha esposa. Eu fiquei muito constrangido.
Constrangida ela não ficou de forma alguma. Vamos chamar ela de “Sem-Vergonha”. A Sem-Vergonha não ficou constrangida, pois ela engoliu a mentira da nossa sociedade moderna. Esta mentira diz o seguinte: se a sutiã e a calcinha estiverem da mesma cor e feitas de um tecido que se pode usar na água, então não são roupas íntimas—são roupa de banho. A Sem-Vergonha se declara Cristã, mas mesmo assim ela parece não ter problema em expor o corpo dela para o mundo inteiro. Imagino que ela ficaria talvez com vergonha de andar no shopping ou visitar uma família, vestida apenas de sutiã e calcinha. Mas por alguma razão, ela não percebe problema nenhum em escolher uma foto dela assim vestida como foto do perfil do Facebook. Foi assim que ela entrou no meu escritório: pela tela do meu computador. 
Eu tenho centenas de “amigos” no Facebook que mal conheço. Aceito qualquer solicitação de amizade de pessoas que se declaram Cristãos, pois quero ampliar minha rede de contatos com pessoas crentes para promover o trabalho de várias entidades e instituições reformadas com as quais trabalho. Quando um contato no Facebook postar coisas indecorosas ou promove pensamentos, atitudes ou atos não Cristãos, eu apago logo. 
Quero compartilhar com você as razões pelas quais eu apaguei a Sem-Vergonha:
1. O corpo dela pertence ao seu marido (1 Cor. 7:4). Se ela não estiver casada, ela deve guardar o corpo dela para o seu futuro marido. O corpo dela não é para ser exposto para o mundo inteiro ver; muito menos é para ser exposto na tela do meu computador.
2. Ver o corpo de uma outra mulher não promove minha santificação nem edifica o meu casamento (Prov. 5:15-20; Jó 31:1). Deus criou o homem de tal forma que ele experimenta uma reação muito forte quando vê o corpo de uma mulher. Esta reação dentro do casamento é linda e promove o verdadeiro amor. Fora do casamento, é vergonhosa e traz destruição e tristeza. Neste mundo atolado na imoralidade e perversão sexual, é necessário muita vigilância para o homem guardar a sua pureza sexual. Quando outras mulheres se apresentam quase despidas diante dos olhos de um homem, isto em nada ajuda nesta luta contra o pecado.
3. Se apresentar em público descoberta é uma negação da obra de Cristo (Gen. 3:21, Isa 61:10, Eze. 16, Apoc. 3:18). Quando o homem caiu em pecado, a sua nudez foi exposta. Deus deu roupas para cobrir a vergonha de Adão e Eva. Um animal teve de morrer para que a nudez deles fosse coberta. Isto foi uma pregação da obra de Cristo, que ficou exposto e nu na Cruz, tomando para Si a nossa vergonha, e derramando o seu sangue para que sejamos cobertos com as roupas brancas da justiça do Cordeiro. A forma que nós nos vestimos reflete algo sobre o nosso entendimento do evangelho. Quando homens e mulheres Cristãos expõem seus corpos publicamente, estão de uma certa forma apagando a manifestação do poder da obra de Cristo em suas vidas. Em vez de se vestir em traje decente, com modéstia e bom senso, eles imitam o mundo que se gloria na sua vergonha. 
A coisa triste é que muitos que se dizem seguidores de Cristo acharão esta reação radical demais. Tem uma razão por isto: estamos tão atolados no mundanismo que nem percebemos. O Cristianismo superficial e mundano dos nossos dias produz Cristãos superficiais e mundanos. O Cristianismo ensinado por Cristo e os apóstolos, contudo, é uma total transformação da vida em todos os aspectos, acompanhado por um compromisso radical com a santidade. Se a única diferença entre o mundo e a Igreja é que estes estão do lado de dentro da parede da Igreja, e aqueles do lado externo, então não conhecemos o verdadeiro Cristianismo que proclama: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Cor. 5:17).
 
Fonte: Reforma Hoje

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Mas quem é você, ó homem?

 

Por Vincent Cheung

 

Dir-me-ás então: "Por que se queixa ele ainda? Pois quem tem resistido à sua vontade?". Mas quem é você, ó homem para questionar a Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: "Por que me fizeste assim?" Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Rm 9. 19-21, ESV).
 
Paulo havia demonstrado nos versículos anteriores que se um homem alcança salvação através de Jesus Cristo, isso não depende da vontade ou decisão da pessoa, mas de Deus, que escolhe mostrar misericórdia a ela. Assim, um homem mostra incredulidade ou mesmo se opõe a Deus não porque decide isso por si mesmo, mas porque Deus escolheu endurecê-lo para uma finalidade que ele próprio tem. O apóstolo conclui: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (v. 18).
 
Um homem crê em Jesus porque Deus o faz crer em Jesus. Outro homem é endurecido contra o evangelho porque Deus o torna endurecido. O caminho de cada pessoa é determinado antes de seu nascimento, mesmo na eternidade, antes da criação do mundo. As decisões de uma pessoa não determinam seu caminho, mas seu caminho preordenado determina essas decisões. O destino de um homem não é determinado, mas sim revelado por suas escolhas, isto é, por aquilo que Deus faz o homem decidir de acordo com o propósito divino.
 
Esta é uma das doutrinas bíblicas mais simples e explícitas. No entanto, é também a doutrina mais detestada, pois da forma mais clara possível revela Deus como sendo Deus, e até mesmo os cristãos que não gostam muito de Deus. Nesta doutrina ficamos frente a frente com o que significa ser Deus, e somos compelidos a mostrar se, de fato, reconhecemos Deus como o total soberano ou se buscamos manter controle sobre alguns aspectos de nós mesmos e acalentar a ilusão de que de fato é possível agirmos assim. Mesmo entre crentes e teólogos que professam a soberania de Deus da boca para fora, muito poucos recebem essa doutrina da causação divina direta e total de todas as coisas sem tentar criar por si mesmos uma saída para escapar disso. Ou eles podem condenar essa versão genuína de Deus e então resgatar Deus reduzindo-o a algo inferior.
 
Assim, Paulo antecipa a divergência. Ele espera que alguém lhe diga: “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?” (NVI). Em outras palavras, se é Deus quem endurece uma pessoa para ela não poder buscar a justiça ou crer na verdade, por que Deus ainda condena ou pune o pecador? A objeção não faz sentido a menos que seja assumido que responsabilidade pressupõe liberdade, no sentido de que uma pessoa deveria ser livre para tomar as suas próprias decisões se tivesse de ser responsabilizada por elas. Mas Deus não concorda com essa suposição; na verdade, todos os versículos anteriores repudiam essa ideia. Uma pessoa é condenada e punida por seus pecados porque transgrediu os mandamentos de Deus. A causa de suas transgressões é irrelevante. Se ela transgrediu, é uma transgressora.
 
Paulo passa a responder ao desafio e no processo revela insights adicionais na doutrina. Declara que o oleiro tem o direito de fazer do mesmo barro um vaso para honra e outro para desonra. O apóstolo está fazendo contraste entre dois tipos de pessoas — os eleitos, aqueles que Deus predeterminou para se tornarem cristãos, e os réprobos, aqueles que Deus predeterminou para continuarem não cristãos. Assim, o vaso para honra representa o cristão e o vaso para desonra representa o não cristão. Provavelmente, o vaso para honra seria representado no ambiente doméstico como um testemunho da riqueza e requinte do proprietário. Por outro lado, o vaso para desonra seria provavelmente relacionado a uma lata de lixo ou até mesmo ao banheiro. Assim, Deus entende que os réprobos são as latas de lixo e os banheiros deste mundo. Sabemos do que são cheios os banheiros — de algo que fede a incredulidade, ciência e religião não cristãs.
 
A Bíblia contradiz o ponto de vista quase unânime de teólogos cristãos no fato de que a exposição que ela faz da doutrina não deixa espaço em nenhum sentido para a liberdade e a autodeterminação, ou à noção de que a soberania divina é compatível com essas coisas. Por que importa se o controle do oleiro sobre o barro é compatível com os desejos do barro? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: “Por que me fizeste assim?”. O homem não é representado como dizendo de uma forma ou de outra: “Por que passivamente ordenaste que eu deveria usar meu poder de autodeterminação para eu concorrentemente decidir me tornar o que decretaste para eu ser?”. Não, ele diz: “Por que me fizeste assim?”. Tu. Tu me fizeste. Tu me fizeste assim.
 
Por contato direto e com suas próprias mãos, o oleiro molda o barro no vaso que ele quer que venha a se tornar. Embora isso se aplique tanto ao vaso para honra como ao vaso para desonra, a objeção se refere àqueles a quem Deus “culpa” — a objeção está essencialmente interessada em como o vaso para desonra é fabricado. A resposta de Paulo significa que Deus é ativo em fazer do homem perverso aquilo que ele é. Deus faz isso usando “da mesma massa” da qual faz os vasos para honra e não de algum material com traços desonráveis já presentes. Em outras palavras, as características do réprobo vêm diretamente e totalmente das mãos de Deus e de nenhum outro lugar. Paulo não vê nada de errado nisso. Deus tem o direito de fazer de um homem a sua obra-prima e de outro o seu banheiro. Quem disse que um oleiro mestre não deve fazer um banheiro se ele assim o deseja? E quem é o banheiro para dizer ao oleiro: “Por que me fizeste assim?”. Mas até um banheiro queixoso pode fazer mais do que apenas lamuriar“Tenho livre-arbítrio!” ou mesmo “Eu não sou coagido!”.
 
A verdade da fé cristã é simples e óbvia. Nunca há uma boa objeção contra ela; ela deve ser reverentemente aceita. E porque a verdade é simples e óbvia, toda objeção à fé cristã é sempre estúpida e má. Porque toda objeção à fé cristã é estúpida e má, devemos atacar toda objeção, e para que não se alegue que evitamos o problema, devemos também respondê-lo. Mas, mais do que isso, é característica da Bíblia atacar a pessoa que faz a objeção. Isso ocorre porque sempre que uma pessoa questiona a fé cristã, necessariamente significa que há algo de errado com a pessoa.
 
Paulo não diz: “Ó homem inteligente e maravilhoso, por que faz uma objeção tão ultrajante contra Deus?”. Não, o apóstolo ataca o homem diretamente — “Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus?” É uma pergunta retórica — quer dizer que o homem não é ninguém e deve fechar a boca. Paulo não é estúpido como os nossos pregadores e teólogos. Eles nos dizem que os não cristãos podem ser sinceros e inteligentes, e mesmo assim fazer objeções contra Deus. De onde veio esse absurdo? Talvez eles aprenderam isso dos não cristãos, que estão sempre desesperados para afirmar a sua sinceridade e inteligência. Ou talvez os pregadores e teólogos querem saudar a sua própria rebeldia contra Deus. Mas Jesus disse que a boca fala do que está cheio o coração. O não cristão faz objeções porque é um pecador, um rebelde — ele não apenas age como um, mas é um. Qualquer cristão que faz uma contribuição significativa em pregações ou debates deve criticar e depreciar a pessoa — o próprio não cristão — e não apenas seus argumentos e suas ações.
 
Quem é você, ó não cristão, para desafiar a verdade de Deus, quando a Bíblia declara que você já sabe sobre ele? Como um covarde, como uma criancinha assustada, você reprime esse conhecimento para que não precise lidar com a realidade. Quem é você para rejeitar um veredito de culpado quando a Bíblia mostra que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus? Você retruca: “Quem é você para me julgar?”. Bem, quem é você para dizer que não devo declarar o julgamento de Deus sobre você? Quem é você para recusar o evangelho? Você não é ninguém. Você não é nada.
 
Quem é você, ó legalista, ó religioso hipócrita, para recusar a Jesus Cristo, quando a própria Lei diz a você para abandonar seus próprios esforços e depender de Jesus como seu mediador e defensor? Quem é você para pensar que pode ser seu igual ou superior? Quem é você para dizer que pode alcançar o céu com o que considera boas obras, quando Deus as rejeita como trapos de imundícia? Você não é ninguém. Você não é nada.
 
Quem é você, ó arminiano, para dizer que Deus não decreta e causa todas as coisas unicamente por sua própria vontade e para o seu próprio propósito, e sem considerar a fé e a decisão do homem, pois Deus causa a fé e a decisão do homem por causa de seu decreto eterno? Quem é você para pensar que o homem tem poder de escolher, até mesmo para decidir o seu destino eterno? Quem é você para dizer que Cristo poderia pagar o preço para redimir um homem e, contudo, perder o homem para a ira de Deus? E quem é você para dizer que um homem, uma vez apreendido por Deus, pode livrar a si mesmo das mãos de Cristo? Você não é ninguém. Você não é nada.
 
Quem é você, ó calvinista, para dizer que Deus não pode ser o autor do pecado e aquele que diretamente cria e endurece homens perversos? Quem é você para dizer que Deus meramente ignora os réprobos, quando as Escrituras afirmam que Deus forma eles por suas próprias mãos como um oleiro molda barro para fazer latas de lixo e banheiros? Seu hipócrita! Finge defender a justiça e a santidade de Deus, quando a questão apenas surge porque você julga Deus pelo padrão do homem. Com uma mão você rouba de Deus a sua soberania, e com a outra o indeniza com justiça humana. Quem é você, ó homem, para pensar que pode ir longe com isso? Você não é ninguém. Você não é nada.
 
Quem é você, ó teólogo reformado? Você é muito melhor que o arminiano? Repetidamente, ao firmar um pé na ortodoxia e um pé na blasfêmia, você gera inúmeros paradoxos e contradições e chama isso de grande mistério de Deus! Ó vaidade das vaidades, uma teologia de sistemática futilidade!
 
Fora com todos vocês! Deus exerce controle completo e imediato sobre todas as coisas, incluindo as decisões e destinos de todos os homens. Assim como molda seus escolhidos em suas obras-primas, ele molda os réprobos em recipientes de lixo e fezes. Ao contrário dos nossos pregadores e teólogos, o oponente de Paulo ao menos entende a doutrina: Deus endurece a quem quer (v. 18), para que eles não creiam e sejam salvos. Ele faz isso por seu poder ativo e direto, assim como um oleiro que molda o barro (v. 21). Esses homens são preparados para destruição (v. 22). Eles não podem resistir à vontade de Deus, mas mesmo assim ele os culpa e pune (v. 19). Ele pode fazer isso porque é Deus, e ninguém pode dizer uma palavra contra ele (v. 20).

 
Fonte: Monergismo

Série: Os Atributos de Deus - A Solidão de Deus [1/17]


Por Arthur W. Pink


O título deste capítulo talvez não seja suficientemente claro para indicar o seu tema. Isto se deve, em parte, ao fato de que hoje em dia bem poucas pessoas estão acostumadas a meditar nas perfeições pessoais de Deus. Dos que lêem ocasionalmente a Bíblia, bem poucos sabem da grandeza do caráter divino, que inspira temor e concita à adoração. Que Deus é grande em sabedoria, maravilhoso em poder, não obstante, cheio de misericórdia, muitos acham que pertence ao conhecimento comum; contudo, chegar-se a um conhecimento adequado do Seu Ser, Sua natureza, Seus atributos, como estão revelados nas Escrituras Sagradas, é coisa que pouquíssimas pessoas têm alcançado nestes tempos degenerados. Deus é único na excelência do Seu Ser. "Ó Senhor, quem é como Tu entre os deuses? Quem é como Tu glorificado em santidade, terrível em louvores, operando maravilhas?" (Êxodo 15:11).

"No princípio... Deus..." (Gênesis 1:1). Houve tempo, se é que se lhe pode chamar "tempo", em que Deus, na unidade de Sua natureza, habitava só (embora subsistindo igualmente em três pessoas divinas). "No princípio... Deus...". Não existia o céu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glória. Não existia a terra, que Lhe ocupasse a atenção, Não existiam os anjos, que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do Seu poder. Não havia nada, nem ninguém, senão Deus; e isso, não durante
um dia, um ano ou uma época, mas "desde sempre". Durante uma eternidade passada, Deus esteve só: completo, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando.

Se um universo, ou anjos, ou seres humanos Lhe fossem necessários de algum modo, teriam sido chamados à existência desde toda a eternidade. Ao serem criados, nada acrescentaram a Deus essencialmente. Ele não muda (Malaquias 3:6), pelo que, essencialmente, a Sua glória não pode ser aumentada nem diminuída.

Deus não estava sob coação, nem obrigação, nem necessidade alguma de criar. Resolver fazê-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não produzido por nada alheio a Si próprio; não determinado por nada, senão o Seu próprio beneplácito, já que Ele "faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11). O fato de criar foi simplesmente para a manifestação da Sua Glória. Será que algum dos nosso leitores imagina que fomos além do
que nos autorizam as Escrituras? Então, o nosso apelo será para a Lei e o Testemunho: "... levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade; ora bendigam o nome da tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor" (Neemias 9:5). Deus não ganha nada, nem sequer com a nossa adoração. Ele não precisava dessa glória externa de Sua graça, procedente de Seus redimidos, porquanto é suficientemente glorioso em Si mesmo sem ela. Que foi que O moveu a predestinar Seus eleitos para o louvor da glória de Sua graça? Foi, como nos diz Efésios 1:5, ".... o beneplácito de sua vontade".

Sabemos que o elevado terreno que estamos pisando é novo e estranho para quase todos os nossos leitores; por esta razão faremos bem em andarmos devagar. Recorramos de novo às Escrituras. No final de Romanos capítulo 11,
onde o apóstolo conclui sua longa argumentação sobre a salvação pela pura e soberana graça, pergunta ele: "Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?" (vers. 34-35). A importância disto é que é impossível submeter o Todo-poderoso a quaisquer obrigações para com a criatura; Deus nada ganha da nossa parte. "Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá da tua mão? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria a um filho do homem" (Jó 35:7-8), mas certamente não pode afetar a Deus, que é bem-aventurado em Si mesmo. "quando fizerdes
tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer" (Lucas 17:10) — nossa obediência não dá nenhum proveito a Deus.

De mais a mais, vamos além: nosso Senhor Jesus Cristo não acrescentou nada a Deus em Seu Ser essencial e à glória essencial do Seu Ser, nem pelo que fez, nem pelo que sofreu. É certo, bendita e gloriosamente certo, que Ele nos manifestou a glória de Deus, porém nada acrescentou a Deus. Ele próprio o
declara expressamente, e não há apelação quanto às Suas palavra.; "... não tenho outro bem além de ti" (Salmo 16:2; na versão usada pelo autor, literalmente: "... a minha bondade não chega a Ti"). Em toda a sua extensão, este é um Salmo sobre Cristo. A bondade e a justiça de Cristo alcançou os Seus santos na terra (Salmo 16:3), mas Deus estava acima e além disso tudo, pois unicamente Deus é "o Bendito" (Marcos 14:61, no grego).

É absolutamente certo que Deus é honrado e desonrado pelos homens; não em Seu Ser essencial, mas em Seu caráter oficial. É igualmente certo que Deus tem sido "glorificado" pela criação, pela providência e pela redenção. Não contestamos isso, e não ousamos fazê-lo nem por um momento. Mas isso tudo tem que ver com a Sua glória declarativa e com o nosso reconhecimento dela. Todavia, se assim Lhe aprouvesse, Deus poderia ter continuado só, por toda a eternidade, se dar a conhecer a Sua glória a qualquer criatura.
Que o fizesse ou não, foi determinado unicamente por Sua própria vontade. Ele era perfeitamente bem-aventurado em Si mesmo antes de ser chamada à existência a primeira criatura. E, que são para Ele todas as Suas criaturas, mesmo agora? Deixemos outra vez que as Escrituras dêem a resposta: "Eis que as nações são consideradas por ele como a gola dum balde, e como o pó miúdo das balanças: eis que lança por ai as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa vã. A quem pois fareis semelhante a Deus: ou com que o comparareis?" (Isaías 40:15-18). Esse é o Deus das Escrituras; infelizmente Ele continua sendo o "Deus desconhecido" (Atos 17:23) para as multidões desatentas. "Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda para neles habitar; o que faz voltar ao nada os príncipes e torna coisa vã os juízes da terra" (Isaías 40.22-23). Quão imensamente diverso é o Deus das Escrituras do "deus" do púlpito comum!

O testemunho do Novo Testamento não tem nenhuma diferença do que vemos no Velho Testamento; como poderia ser, uma vez que ambos têm o mesmo Autor! Ali também lemos: "A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, o único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele
só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver: ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém" (1 Timóteo 6:15-16). O Ser que aí é descrito deve ser reverenciado, cultuado, adorado. Ele é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência, incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, mas não é enriquecido por ninguém.

Um Deus tal não pode ser encontrado mediante investigação; só pode ser conhecido como e quando revelado ao coração Espírito Santo, por meio da Palavrá. É verdade que a criação manifesta um Criador, e isso com tanta clareza
que os homens ficam "inescusáveis" (Romanos 1:20); contudo, ainda temos que dizer como Jó: "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovão do seu poder?" (Jó 26:14). Cremos que o argumento baseado no desígnio, assim chamado, argumento apresentado por "apologetas" bem intencionados, tem causado mais dano que benefício, pois tenta baixar o grande Deus ao nível do entendimento finito e, com isso, perde de vista a Sua singular excelência.

Tem-se feito uma analogia com o selvagem que achou um relógio e que depois de um detido exame, inferiu a existência de um relojoeiro. Até aqui, tudo bem. Tentemos ir mais longe, porém. Suponhamos que o selvagem procure formar uma concepção pessoal desse relojoeiro, de seus afetos pessoais, de suas maneiras, de sua disposição, conhecimentos e caráter moral — de tudo aquilo que se junta para compor uma personalidade. Poderia ele chegar a imaginar ou pensar num homem real ___ o homem que fabricou o relógio — de modo que
pudesse dizer: "Eu o conheço"? Fazer perguntas como esta parece fútil, mas estará o eterno e infinito Deus tanto mais ao alcance da razão humana? Realmente, não. O Deus das Escrituras só pode ser conhecido por aqueles a quem Ele próprio Se dá a conhecer.

Tampouco o intelecto pode conhecer a Deus. "Deus é espírito..." (João 4:24) e, portanto, só pode ser conhecido espiritualmente. Mas o homem decaído não é espiritual; é carnal, Está morto para tudo que é espiritual. A menos que nasça de novo, que seja trazido sobrenaturalmente da morte para a vida, miraculosamente transferido das trevas para a luz, não pode sequer ver as coisas de Deus (João 3:3), e muito menos entendê-las (1 Coríntios 2:14). É mister que o Espírito Santo brilhe em nossos corações (não no intelecto) para dar-nos o "... conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Coríntios 4:6). E até mesmo esse conhecimento espiritual é apenas fragmentário. A alma regenerada terá de crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus (2 Pedro 3:18).

A nossa principal oração e finalidade como cristãos deve ser que possamos "... andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus" (Colossenses 1:10).


Fonte: Arthur W. Pink, Os Atributos de Deus, 1990, PES


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Onze Conselhos aos Pastores Iniciantes

Por Joel Beeke

 

1. Ore, ore, ore. Jamais tome sobre si mesmo nenhuma responsabilidade da igreja sem temperá-la com oração. Lembre-se do conselho de John Bunyan: “Você pode fazer mais do que orar depois de ter orado, mas você não pode fazer nada mais do que orar até ter orado”. 


2. Estude, estude, estude. Mantenha-se nos pastos verdejantes da verdade em seus estudos. Conserve o seu hebraico e o seu grego. Prepare os seus sermões com muito cuidado. Escreva alguns artigos ou alguns livros para aprimoramento pessoal. Participe de algumas das conferências e seminários de que vale a pena participar, tão comuns em vários locais hoje. Volte ao seminário para estudar um pouco mais. Faça questão de trabalhar de forma que sua mente seja expandida. 

3. Pregue, pregue, pregue. Empregue o melhor da sua energia e vida, como Paulo, pregando Jesus Cristo (1 Co 2.2). Pregue com frequência. E quando o fizer, pregue de forma bíblica, doutrinária, experimental e prática. Pregue com paixão, apresentando a Palavra da vida “como um moribundo falando com outros moribundos”. 

4. Seja um modelo, seja um modelo, seja um modelo. Seja um modelo da verdade bíblica para com sua esposa, sua família, para com os que trabalham com você na igreja, sua congregação, e para com seus vizinhos. Decida-se, como Thomas Boston, a espalhar o perfume de Cristo onde quer que você vá. Como Robert Murray M’Cheyne, ore que o Espírito Santo possa torná-lo tão santo na terra quanto é possível que um pecador perdoado seja santo. Ore para que sua vida seja uma “carta viva”, seus sermões sejam escritos em sua vida prática. 

5. Delegue, delegue, delegue. Não dê aulas a todas as classes na sua igreja. Não seja o responsável pelo boletim dominical. Não tente regular e supervisionar todas as atividades dos seus colegas de trabalho. Delegue tudo o que for possível, de forma que você possa concentrar-se na oração, na pregação, no ensino, e no cuidado espiritual do rebanho. 

6. Treine, treine, treine. Treine o seu povo para as funções de liderança nos diversos ministérios da igreja. Gaste tempo extra com os jovens que podem servir como futuros presbíteros e diáconos, ou como líderes de diferentes atividades. Pela graça do Espírito, “desenvolva” futuros líderes. À medida que você os treina, dê-lhes liberdade para usar os dons e oriente a visão deles tanto quanto possível. Todo o tempo empregado nisso será muito bem gasto. 

7. Visite, visite, visite. Visite o seu rebanho fielmente – no hospital, em casa, e em toda hora de necessidade. Esteja presente quando precisarem de você. Sempre leia a Palavra e fale algumas poucas palavras edificantes sobre o texto, e ore em cada visita. Se você falhar nesse assunto, falhará em tudo mais. 

8. Ame, ame, ame. Muitos ministros falham porque negligenciam o amor às ovelhas. Ame e continue amando o seu povo por aquilo que são, e não pelo que você pensa que deveriam ser. Aceite-os como são e onde estão, e trabalhe com eles a partir desse ponto, sempre com paciência, lembrando que, se você não pode associar-se de forma amorosa com as pessoas onde elas estão, com o passar do tempo elas o rejeitarão. Considere-se como o tutor espiritual e o cuidador de uma grande família. Seja bondoso com cada um deles. Leve-os a sentir a sua preocupação por eles e por suas famílias. Faça perguntas que mostram o seu cuidado por eles. Regue-os com compaixão, quando estiverem em necessidade. À medida que o seu relacionamento cresce, sempre que for apropriado, não se acanhe de dizer-lhes que você os ama. E se você tiver inimigos na igreja, faça de tudo para amá-los também, como Jesus ordenou. 

9. Desfrute, desfrute, desfrute. Considere como inacreditável honra e alegria o fato de ser embaixador de Deus. Edward Payson (1783-1827) disse que com frequência batia palmas de alegria durante seu estudo particular porque Deus o tinha chamado para o ministério sagrado da Sua Palavra. A obra do ministério é uma tarefa pesada, mas também é cheia de alegria. Aprenda a considerar como sua força a alegria do Senhor, em Cristo (Ne 8.10). 

10. Renove, renove, renove. Preste atenção à sua saúde. Viva em intimidade com Deus, alimente-se de Cristo, beba intensamente do Espírito. Tire tempo para descansar, para deixar de lado todos os fardos, e para abrir-se à luz da Palavra e à direção do Espírito Santo. Lembre-se de que você é um mero receptáculo ou vaso, e não a fonte das águas vivas. Você não consegue dar aos outros aquilo que não apanhou primeiro para si mesmo. 

11. Persevere, persevere, persevere. Quando chegarem as tribulações e os inimigos perseguirem, não seja um mercenário que abandona as ovelhas. Persevere no cuidado por elas. Fique firme. Confie em Eclesiastes 11.1: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás”.



Fonte: Os Puritanos