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terça-feira, 25 de março de 2014

Base Bíblica do Batismo de Criança

Por Louis Berkhof


Então confira esta cadeia temática bem construída sobre uma tese doutrinal muito segura e bíblica! O fundamento escriturístico do batismo de crianças acha-se nos seguintes dados:

(1) A aliança feita com Abrão era primariamente uma aliança espiritual, embora também tivesse um aspecto nacional, e desta aliança espiritual a circuncisão era um sinal e selo. É um procedimento infundado dos batistas partir esta aliança em duas ou três alianças diferentes. A Bíblia se refere à aliança com Abraão diversas vezes, mas sempre no singular, Ex 2.24; Lv 26.42; 2 Rs 13.23; 1 Cr 16.16; Sl 105.9. Não há sequer uma única exceção a esta regra. A natureza espiritual desta aliança é comprovada pela maneira segundo a qual suas promessas são interpretadas no Novo Testamento, Rm 4.16-18; 2 Co 6.16-18; Gl 3.8, 9, 14, 16; Hb 8.10; 11.9, 10, 13. decorre também do fato de que evidentemente a circuncisão era um rito que tinha significação espiritual, Dt 10.16; 30.6; Jr. 4.4; 9,25, 26; At 15.1; Rm 2.26-29; 4.11; Fp 3.2, e do fato de que a promessa da aliança é até denominada “o evangelho”, Gl 3.8.

(2) Esta aliança ainda está em vigência, e é essencialmente idêntica à “nova aliança” da presente dispensação. A unidade e continuidade da aliança em ambas as dispensações segue-se do fato de que o Mediador é o mesmo, At 4.12; 10.43; 15.10, 11; Gl 3.16; 1 Tm 2.5, 6; 1 Pe 1.9-12, a condição é a mesma, a saber, a fé, Gn 15.6 (Rm 4.3); Sl 32.10; Hb 2.4; At 10.43; Hb 11, e as bênçãos são as mesmas, quais sejam, a justificação, Sl 32.1, 2, 5; Is 1.18; Rm 4.9; Gl 3.6, a regeneração, Dt 30.6; Sl 51.10, dons espirituais, Jl 2.28, 32; At 2.17-21; Is 40.31, e a vida eterna, Ex 3.6; Hb 4.9; 11.10. Aos que foram levados à convicção no dia de Pentecostes Pedro deu a certeza de que a promessa era para ele e para os seus filhos, At 2.39. Paulo argumenta em Rm 4.13-18 e Gl 3.13-18 que a dádiva da lei não anulou a promessa, de sorte que ela ainda permanece na nova dispensação. E o escritor de Hebreus assinala que a promessa a Abraão foi confirmada com juramento, de modo que os crentes neotestamentários podem haurir consolo da sua imutabilidade, Hb 6.13-18. 


(3) Pela determinação de Deus, as crianças participavam dos benefícios da aliança, e, portanto, recebiam a circuncisão como sinal e selo. Segundo a Bíblia, a aliança é, evidentemente, um conceito orgânico, e sua realização segue linhas orgânicas e históricas. Há um povo ou nação de Deus, um conjunto orgânico tal que só pode constituir-se de famílias. Naturalmente, esta idéia de nação é muito proeminente no Velho Testamento, mas o notável é que ela não desapareceu depois da nação de Israel ter servido ao seu propósito. Ela foi espiritualizada e, assim, passou para o Novo Testamento, de modo que o povo de Deus, no Novo Testamento, também é  apresentado como nação, Mt 21.43; Rm 9.25, 26 (como. Oséias 2.23); 2 Co 6.16; Tt 2.14; 1 Pe 2.9. Durante a antiga dispensação, as crianças eram consideradas parte integrante de Israel como o povo de Deus. Estavam presentes quando era renovada a aliança, Dt 29.10-13; Js 8.35; 2 Cr 20.13, tinham um lugar na congregação de Israel e, portanto, estavam presentes em suas assembléias religiosas, 2 Cr 20.13; Jl 2.16. Em vista de promessas ricas como as de Is 54.13; Jr 31.34; Jl 2.28, dificilmente esperaríamos que os privilégios de tais crianças fossem reduzidos na nova dispensação, e, certamente, não procuraríamos sua exclusão de todo e qualquer lugar na igreja. Jesus e os apóstolos não as excluíram, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14. A referida exclusão por certo exigiria uma declaração muito explícita a respeito.

(4) Na nova dispensação o batismo, pela autoridade divina, substitui a circuncisão como o sinal e selo iniciatório da aliança da graça. A Escritura insiste vigorosamente em que a circuncisão não pode mais servir como tal, At 15.1, 2; 21.21; Gl 2.3-5; 5.2-6; 6.12, 13, 15. Se o batismo não lhe tomou o lugar, o Novo Testamento não tem nenhum rito iniciatório. Mas Cristo o estabeleceu como tal substituto, Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16. Seu sentido espiritual corresponde ao da circuncisão. Como a circuncisão se referia à eliminação do pecado e à mudança do coração, Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.25, 26; Ez 44.7, 9, assim o batismo se refere ao lavamento purificador do pecado., At 2.38; 1 Pe 3.21; Tt 3.5, e à renovação espiritual, Rm 6.4; Cl 2.11, 12. esta última passagem claramente liga a circuncisão ao batismo e, ensina que a circuncisão de Cristo, isto é, a circuncisão do coração, simbolizada pela circuncisão da carne, é realizada pelo batismo, isto é, por aquilo que o batismo simboliza. Cf. também Gl 3.27, 29. Mas, se as crianças recebiam o sinal e selo da aliança na antiga dispensação, a pressuposição é que certamente elas têm direito de recebe-lo na nova, a qual os fiéis do Velho Testamento eram ensinados a aguardar como sendo uma dispensação muito mais completa e muito mais rica. Sua exclusão dela requereria uma declaração clara e inequívoca com esse fim, mas exatamente o oposto é que se vê, Mt 19.14; At 2.39; 1 Co 7.14. 

(5) Como acima foi assinalado, o Novo Testamento não contém nenhuma evidência direta em favor da prática do pedobatismo nos dias dos apóstolos. Lambert, após considerar e sopesar todas as evidências à mão, expressa a sua conclusão com as seguintes palavras: “Então, as evidências do Novo Testamento parecem apontar para a conclusão de que o batismo de crianças, para dizer o mínimo, não era costume geral na era apostólica”.

1 - Mas não há necessidade de ninguém se surpreender com o fato de não haver menção direta do batismo de crianças, pois num período missionário como o da era apostólica, naturalmente a ênfase recairia sobre o batismo de adultos. Além disso, nem sempre as condições eram favoráveis ao batismo de crianças. Os conversos não teriam de imediato uma adequada concepção dos seus deveres e responsabilidades pactuais. Às vezes somente um dos pais se convertia e é perfeitamente concebível que o outro se opusesse ao batismo dos filhos. Muitas vezes não havia razoável certeza de que os pais educariam os seus filhos piedosa e religiosamente, e, todavia, era necessária essa certeza. Ao mesmo tempo, a linguagem do Novo Testamento é perfeitamente coerente com uma continuação da administração orgânica da aliança, que exigia a circuncisão das crianças, Mt 19.14; Mc 10.13-16; At 2.39; 1 Co 7.14. Ademais, o Novo Testamento fala repetidamente do batismo de famílias, e não dá indicação de que isto seja considerado fora do comum, mas, antes, refere-se a esse fato como natural, At 16.15, 33; 1 Co 1.16.  É, por certo, inteiramente possível, mas não muito provável, que nenhuma dessas famílias tivesse crianças. E se havia crianças, é moralmente certo que eram batizadas junto com seus pais. O certo é que o Novo Testamento não contém nenhuma prova de que pessoas nascidas e criadas em famílias cristãs não possam ser batizadas antes de chegarem à idade da discrição e de haverem professado sua fé em Cristo. Não há a mais ligeira alusão a alguma prática desse tipo. 

(6) Wall, na introdução da sua História do pedobatismo (History of Infant Baptism), mostra que no batismo de prosélitos os filhos dos prosélitos muitas vezes eram batizados junto com seus pais; mas Edersheim diz que havia uma diferença de opiniões sobre este ponto.
  
2 - Naturalmente, mesmo que isso acontecesse, nada provaria quanto ao batismo cristão, mas mostraria que não havia nada de estranho nesse procedimento. A mais antiga referência histórica ao batismo de crianças acha-se nos escritos da segunda metade do segundo século. A obra Didaquê fala do batismo de adultos, mas mão do pedobatismo; e conquanto Justino faça menção de mulheres que eram discípulas de Cristo desde a infância (ek paidon), esta porção dos seus escritos não menciona o batismo, e a expressão ek paidon não significa necessariamente infância. Irineu, falando de Cristo, diz: “Ele veio salvar por meio de Si próprio todos os que, por meio dele, nascem de novo para Deus, crianças e criancinhas, e meninos, e jovens e idosos”.

1 Este trecho, embora não mencione explicitamente o batismo, é considerado como a mais antiga referência ao batismo de crianças, visto que os chamados “pais primitivos” associavam tão estritamente o batismo à regeneração, que empregavam o termo”regeneração” em lugar de “batismo”. Que o batismo de crianças era praticado mui geralmente, é evidenciado pelos escritos de Tertuliano, embora ele próprio considerasse mais proveitoso protelar o batismo.

2 - Orígenes o descreve como uma tradição dos apóstolos. Diz ele: “Pois isto havia também que a igreja tinha dos apóstolos uma tradição (ou, ordem) de dar o batismo até mesmo às crianças”.

3 - O Concílio de Cartago (253 A.D.) toma o batismo de crianças como certo e simplesmente discute a questão sobre se elas deveriam ser batizadas antes dos oito dias de idade. Do segundo século em diante, o batismo de crianças é reconhecido normalmente, embora às vezes negligenciado na prática. Agostinho inferiu do fato de que ele era praticado pela igreja no mundo inteiro, apesar de não instituído nos concílios, que, com toda a probabilidade, foi estabelecido pela autoridade dos apóstolos. Sua legitimidade não foi negada até aos dias da Reforma, quando os anabatistas se opuseram a ele.

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Fonte: Teologia Sistemática de Louis Berkhof  paginas 584 a 587. Ed. Cultura Cristã.
Divulgação: Teologia & Apologética

domingo, 16 de março de 2014

O Consolo de Deus na Hora do Luto

Por Rev. Hernandes Dias Lopes


De todas as dores da vida, a dor do luto parece ser a mais aguda. É uma dor que lateja na alma e assola nossa vida. Todos nós, num dado momento da vida, teremos que enfrentar essa dor. Não existe nenhuma família que escape desse drama. Não é fácil ser privado do convívio de alguém que amamos. Não é fácil enterrar um ente querido ou um amigo do peito. Não é fácil lidar com o luto. Já passei várias vezes por esse vale de dor e sombras. Já perdi meus pais, três irmãos e sobrinhos. Sofri amargamente. Passei noites sem dormir e madrugas insones. Molhei meu travesseiro e solucei na solidão do meu quarto. A dor do luto dói na alma, aperta o peito, esmaga o coração e arranca lágrimas dos nossos olhos. Jesus chorou no túmulo de Lázaro e os servos de Deus pranteavam seus mortos. Porém, há consolo para os que choram. Aqueles que estão em Cristo têm uma viva esperança, pois sabem que Jesus já venceu a morte. Ele matou a morte e arrancou seu aguilhão. Agora a morte não tem mais a última palavra. Jesus é a ressurreição e a vida. Aqueles que nele creem nunca morrerão eternamente. Agora, choramos a dor da saudade, mas não o sentimento da perda. Perdemos quem que não sabemos onde está. Quando enterramos nossos mortos, sabemos onde eles estão. Eles estão no céu com Jesus. Para os filhos de Deus, que nasceram de novo, morrer é deixar o corpo e habitar com o Senhor. É partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Os que morrem no Senhor são bem-aventurados!
O fato de termos esperança não significa que deixamos de sofrer. A vida não é indolor. Nossa caminhada neste mundo é marcada por dissabores, decepções, fraquezas, angústias, sofrimento e morte. Aqui cruzamos desertos tórridos, descemos a vales profundos, atravessamos pântanos perigosos. Nossos pés são feridos, nosso coração afligido e nossa alma geme de dor. Não estamos, porém, caminhando rumo a um entardecer cheio de incertezas. O fim da nossa jornada não é um túmulo gelado, mas a bem-aventurança eterna. Entraremos na cidade celestial com vestes alvas e com palmas em nossas mãos. Celebraremos um cântico de vitória e daremos glória pelos séculos sem fim, ao Cordeiro de Deus, que morreu por nós, ressuscitou, retornou ao céu e voltará em glória para buscar sua igreja. Teremos um corpo imortal, incorruptível, poderoso, glorioso e celestial, semelhante ao corpo da glória de Cristo. Deus enxugará dos nossos olhos toda a lágrima. As lembranças do sofrimento ficarão para trás. Na Nova Jerusalém, na Cidade Santa, no Paraíso de Deus, na Casa do Pai, não haverá mais luto nem pranto nem dor. Ali reinaremos com Cristo e desfrutaremos das venturas benditas que ele preparou para nós. Nossa tribulação aqui, por mais severa, será apenas leve e momentânea, se comparada com as glórias por vir a serem reveladas em nós. O nosso choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria virá pela manhã!
Três verdades essenciais do Cristianismo formam as colunas de sustentação da nossa viva esperança. A primeira delas é que Jesus ressuscitou dentre os mortos e triunfou sobre a morte. Agora, a morte não tem mais a última palavra. A morte foi tragada pela vitória! A segunda verdade é que Jesus voltou ao céu e enviou o Espírito Santo, o Consolador, para estar para sempre conosco. Não estamos órfãos. Não caminhamos sozinhos pelos vales escuros da vida. O Espírito Santo consolador está em nós e intercede por nós ao Deus que está sobre nós. A terceira verdade é que Jesus vai voltar gloriosamente para buscar sua igreja. Naquele glorioso dia, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro e os que estiverem vivos serão transformados e arrebatados para encontrar o Senhor Jesus nos ares, e assim, estaremos para sempre com o Senhor. Essas verdades enchem o nosso peito de doçura e abrem para nós uma eterna fonte de consolação!

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Fonte: Site do Autor

segunda-feira, 10 de março de 2014

O Mistério da Piedade

Por Neil Tolsma


Grande é o mistério da piedade (1Tm 3.16). Os primeiros cristãos reconheceram esse mistério como sendo de importância primordial. Eles estavam de acordo com essa verdade. Mas o que é “o mistério da piedade”?

Paulo define o mistério da piedade citando o que muitos estudiosos acreditam ser um hino que a igreja primitiva cantava como forma confessar e celebrar essa maravilhosa verdade. Em versos notáveis, ele descreve a missão concluída por Jesus Cristo:

Aquele que foi manifestado na carne

foi justificado em espírito,

contemplado por anjos,

pregado entre gentios,

crido no mundo

recebido na glória. (1Tm 3.16)

Descobrindo a Verdadeira Piedade

Paulo prefacia o hino dando seu motivo para escrever: “Escrevo-te estas coisas… para que… fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.” (3.14-15). No coração do aconselhamento pastoral de Paulo, encontramos o hino descrevendo o mistério da piedade.

Essa conversa repentina sobre um mistério vem como uma surpresa. Parece uma mudança abrupta no pensamento. Paulo conecta este hino, e então volta para os conselhos práticos.

É como encontrarmos um diamante entre suas ferramentas de uso diário em seu ofício: martelo, chave de fenda, anel de diamante, chave. Um diácono deve ser marido de uma só mulher. Grande é o mistério da piedade. Os falsos mestres virão.

Na verdade, esse hino se encaixa maravilhosamente aqui. Pense desta forma: martelo, chave de fenda, desenho técnico, chave. O objetivo de Paulo é que as pessoas de Timóteo vivam uma “vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (2.2) – uma piedade moldada pela verdade celebrada no hino.

O Que é Piedade?

Piedade pode ser pensada como santidade ou devoção. A linguagem do pacto nos lembra: ser santo como o Senhor nosso Deus é santo. Paulo exorta pela busca de santidade, uma vez que “é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser” (4.7-8). A Piedade é crucial para a santificação na vida cristã.

Vá a uma igreja cristã hoje e pergunte: “O que significa ser piedoso?”. Você normalmente vai ouvir: “Significa ler a Bíblia, orar e ir à igreja regularmente”.

Contudo, tão importante quanto essas coisas possam ser, elas não são a medida da verdadeira piedade. Em vez disso, Paulo aponta para a vida de Jesus.

Por Que Chamar Isso de Mistério?

Normalmente, ao usarmos a palavra mistério, dizemos: “É um mistério pra mim. Eu não sei nada sobre isso.”

O Novo Testamento dá à palavra um toque diferente. Um mistério na Bíblia é algo que nós não conseguiríamos descobrir por nós mesmos. Outrora oculto, nos foi dado a conhecer por Deus com a vinda de Jesus (Rm 16.25-26; Cl 2.2). É um segredo que se tornou público. Jesus insistiu: “Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus” (Mt 13.11).

Paulo explica que Deus nos deu uma revelação notável sobre a piedade. A referência final e certa do que somos e como vivemos é encontrada na piedade de nosso Salvador. Portanto, Cristo permanece central na confissão da igreja. Sua piedade é honrada pelos anjos adoradores no céu e seguida pelos crentes na terra.

A Mensagem do Hino

Existe uma progressão no hino. Nos movemos por um caminho de contraste e comparação entre dois mundos, este mundo e o próximo, esta época e a que está por vir. O poeta nos leva do terreno para o celestial, e em seguida, do celestial para o terreno, e finalmente do terreno ao celestial. Isto marca a sequência da humilhação do nosso Senhor na primeira linha para sua exaltação na última linha.

A primeira estrofe de duas linhas encapsula o evento de Jesus. Em certo sentido, ela destaca a mensagem do poema.

Ele apareceu em um corpo – ou, foi manifestado na carne. “Carne” aponta para nossa situação humana, para este mundo e para a vida nele. A carne é fraca e temporária. Salmo 90.6 nos lembra: “de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e seca.”

A verdadeira piedade encontra o seu princípio no Filho de Deus encarnado. Jesus veio “em semelhança de carne pecaminosa” (Rm 8.3). Na carne, ele se humilhou, foi crucificado, e morreu. Nós fomos à sepultura condenados por nossa culpa. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós” (2Co 5:21).

Ele foi vindicado (justificado) pelo Espírito. A sepultura não poderia segurá-lo.

Cristo ressuscitou! Aqui o veredito celestial foi declarado. Ele foi reconhecido pelo próprio Deus como único inocente que pagou o preço do pecado. Ele é o único justificado, vivo no reino do Espírito. Sua humilhação não é uma questão de vergonha, mas uma questão de obediência à vontade do Pai.

A proclamação do evento de Jesus é abordado na segunda estrofe de duas linhas.

Ele foi contemplado por anjos. O amor abnegado do nosso Senhor chamou atenção em todo o cosmo. Até os anjos foram cativados pelo sofrimento e pela consequente glória de Cristo (1Pe 1.11-12).

Por outro lado: Ele foi pregado entre os gentios. O ministério de Jesus não foi testemunhado apenas por anjos, mas foi anunciado publicamente entre as nações. Neste mundo, ele se fez conhecido como o Salvador que foi exaltado pelo Pai depois de ter sido humilhado até a morte pelo seu povo.

O último par de versos descreve a resposta ao evento de Jesus.

Ele foi crido no mundo. Na presente época, muitos vieram a crer nele. Sua vida de autonegação não impactou negativamente o ser recebido por muitos por meio da fé. De fato, sua glória está na cruz de Cristo, pela qual o mundo tem sido crucificado para eles, e eles para o mundo.

A linha de conclusão: Ele foi recebido na glória. “E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6). O triunfo de Jesus na terra está ligado ao seu triunfo no céu. Deus reconheceu a conquista do humilde Salvador e o exaltou grandemente. Os anjos respondem a ele, que é o vitorioso Senhor de glória assentado à direita do Pai: “Digno é o Cordeiro” (Ap 5.12).

Aqui sim você tem o coração piedoso. Na missão de Jesus nosso Salvador, a verdadeira piedade se torna conhecida neste mundo e no próximo. Sua vida de amor condescendente, em humilde doação de si mesmo ao seu povo, em obediência ao Pai, é o resumo da piedade. Escondidos em Cristo, somos capacitados e procuramos viver de acordo com seu exemplo.

O Significado Do Poema

O segredo para piedade é revelado na vida de Jesus e em seus ensinos. Ele ensinou abnegação, com a garantia da bênção celestial: “quem, todavia, perde a sua vida por minha causa achá-la-á.” (Mt 10.39). Este tema é encontrado em todos os quatro evangelhos. Não é uma ideia aleatória.

Paulo não trata isso de forma casual. Ele enfatizou a mensagem de Jesus em seu próprio ensino. Ao olharmos para o significado do hino, vamos consultar, paralelamente e com mais detalhes, o hino em Filipenses 2.6-11. Aqui Paulo conecta diretamente a piedade de Jesus com a nossa: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (vs. 3-5).

Ele conclui que devemos “Fazer tudo sem murmurações nem contendas” (2.14). Por isso, ele instrui duas mulheres que deixem suas argumentações e “pensem concordemente, no Senhor” (4.2). Piedade significa duas mulheres em Filipos serem reconciliadas pensando humildemente no bem alheio como melhor do que seu próprio bem.

A vida de Jesus fornece o padrão da piedade. A fim de reproduzir a piedade de Cristo em sua vida, você não é obrigado a ser como o fuzileiro que se lança sobre a granada para salvar as vidas de seus amigos. O melhor exemplo é o nosso Salvador inclinando-se para lavar os pés sujos dos discípulos (Jo 13.15).

Pedro considera o exemplo do sofrimento de Cristo e conclui:“sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes… pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” (1Pe 3.8-9).

Podemos negar a nós mesmos sem medo de perder o benefício. Assim como você vive humildemente pelos outros em meio à violência e confusão da vida cotidiana, esteja certo de que o Pai que sustentou e exaltou Jesus, vai sustentar e honrar você. Você está seguro em Cristo.

Esta é a maravilha do mistério da piedade. Dois mundos estão diante de nós: este mundo de serviço humilde e o da nova criação e das bênçãos eternas. “se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.” (Rm 8.17). Celebre isso em obras e cânticos.

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Tradução: Cleber Filomeno.
Fonte: Reforma 21

sábado, 8 de março de 2014

A Doutrina da Trindade na História

Por Louis Berkhof


A doutrina da Trindade sempre enfrentou dificuldade e, portanto, não é de admirar que a Igreja, em seus esforços para formulá-la, tenha sido repetidamente tentada a racionalizá-la e a dar-lhe uma construção que deixava de fazer justiça aos dados da Escritura.

1. PERÍODO DA PRÉ-REFORMA.

Os judeus do tempo de Jesus davam muita ênfase à unidade de Deus, e essa ênfase foi trazida para dentro da Igreja Cristã. O resultado foi que alguns eliminaram completamente as distinções pessoais da Divindade, e que outros não fizeram plena justiça à divindade essencial da segunda e da terceira pessoas da Trindade Santa. Tertuliano foi o primeiro a empregar o termo "Trindade" e a formular a doutrina, mas a sua formulação foi deficiente, desde que envolvia uma infundada subordinação do Filho ao Pai. Orígenes foi mais longe nessa direção, ensinando explicitamente que o Filho é subordinado ao Pai quanto à essência, e que o Espírito Santo é subordinado até mesmo ao Filho. Ele desacreditou a divindade essencial dessas duas pessoas do Ser divino e forneceu um ponto de partida aos arianos, que negavam a divindade do Filho e do Espírito Santo, apresentando o Filho como a primeira criatura do Pai, e o Espírito Santo como a primeira criatura do Filho. Assim, a consubstancialidade do Filho e do Espírito Santo com o Pai foi sacrificada, com o fim de preservar a unidade; e, segundo esse conceito, as três pessoas da Divindade diferem em grau de dignidade. Os arianos ainda conservaram resquícios da doutrina das três pessoas da Divindade, mas essa foi inteiramente sacrificada pelo monarquianismo, em parte no interesse da unidade de Deus e em parte para manter a divindade do Filho. O monarquianismo dinâmico via em Jesus apenas o homem e no Espírito Santo, uma influência divina, enquanto o monarquianismo modalista considerava o Pai, o Filho e o Espírito Santo meramente como três modos de manifestação assumidos sucessivamente pela Divindade. Por outro lado, também houve alguns que a tal ponto perderam de vista a unidade de Deus, que acabaram no triteísmo. Alguns dos monofisistas mais recentes, como João Ascunages e João Philopono, caíram nesse erro. Durante a Idade Média, o nominalista Roscelino foi acusado do mesmo erro. A Igreja começou a formular a sua doutrina da Trindade no século 4. O Concílio de Niceia (325 d. C.) declarou que o Filho é coessencial com o Pai, enquanto o Concílio de Constantinopla (381 d. C.) afirmou a divindade do Espírito, embora não com a mesma precisão. Quanto à inter-relação dos três, foi oficialmente declarado que o Filho é gerado pelo Pai, e que o Espírito procede do Pai e do Filho. No Oriente, a doutrina da Trindade encontrou a sua proposição mais completa na obra de João de Damasco, e no Ocidente, na grande obra de Agostinho, De Trinitate. A primeira ainda retém um elemento de subordinação, inteiramente eliminado pela segunda.

2. PERÍODO DA PÓS-REFORMA.

Depois da Reforma não temos maior desenvolvimento da doutrina da Trindade, mas o que encontramos repetidamente são algumas das errôneas formulações antigas. Os arminianos, Episcópio, Curceleu e Limborgh reavivaram a doutrina da subordinação, outra vez, ao que parece, principalmente para defender a unidade da Trindade. Eles atribuíram ao Pai uma certa preeminência sobre as outras pessoas - em ordem, dignidade e poder. Posição um tanto parecida foi tomada por Samuel Clarke, na Inglaterra, e pelo teólogo luterano Kahnis. Outros seguiram o caminho indicado por Sabélio, ensinando uma espécie de modalismo, como, por exemplo, Emanuel Swedenborg, que sustentava que o eterno Deus-homem fez-se carne no Filho, e agia por meio do Espírito Santo; Hegel, que fala do Pai como Deus em si, do Filho como Deus se objetivando, e do Espírito como Deus retornando a si mesmo; e Schleiermacher, que considera as três pessoas simplesmente como três aspectos  de Deus: o Pai é Deus como a subjacente unidade de todas as coisas, o Filho é Deus como passando a uma personalidade consciente no homem, e o Espírito Santo é Deus vivendo na Igreja. Os socinianos da época da Reforma seguiam as linhas arianas, mas foram além de Ário, pois para eles Cristo era simples homem e o Espírito Santo apenas um poder ou influência. Eles foram os precursores dos unitários e também dos teólogos modernistas, que falam de Jesus como um mestre divino, e identificam o Espírito Santo com o Deus imanente. Finalmente, também houve alguns que, como consideravam ininteligível a afirmação da doutrina de uma Trindade ontológica, queriam livrar-se dela e se satisfizeram com a doutrina de uma Trindade econômica, uma Trindade como se vê revelada na obra de redenção e na experiência humana. Exemplos de defensores dessa ideia são Moses Stuart, W. L. Alexander e W. A. Brown. Durante um considerável período de tempo, declinou o interesse pela doutrina da Trindade,  e a discussão teológica centralizou-se mais particularmente na personalidade de Deus. Brunner e Barth chamaram de novo a atenção para a sua importância. O último a coloca em primeiro plano, discutindo-a em conexão com a doutrina da revelação, e lhe dedica 220 páginas da sua Dogmática. Materialmente, ele deriva da Escritura a doutrina, mas formal e logicamente, acha que ela está envolvida na simples sentença, "Deus fala". Ele é Revelador (Pai), Revelação (Filho) e Revelatura¹ (Espírito Santo). Ele se revela, é a Revelação e é também o conteúdo da Revelação. Deus e sua revelação se identificam. Em sua revelação ele continua sendo Deus, absolutamente livre e soberano. Essa ideia de Barth não é uma espécie de sabelianismo, pois ele reconhece três pessoas na Divindade. Além disso, ele não admite nenhuma subordinação. Diz ele: "Assim, ao mesmo Deus que, em unidade incólume, é Revelador, Revelação e Revelatura, também se atribui, em sua variedade incólume, precisamente esse modo tríplice de existência".²

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NOTAS:
¹ Emprego como neologismo o termo "Revelatura" para facilitar a compreensão das distinções feitas por Barth embora "Revelação" tenha sentido ativo e passivo, de ato e efeito, podendo, portanto, designar o Filho e o Espírito. Nota do tradutor.

² The Doctrine of the Word of God, p. 344.

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Fonte: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pp. 79, 80, Cultura Cristã. Texto adaptado para o blog Púlpito Reformado.