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domingo, 2 de novembro de 2014

A infalibilidade das Escrituras

Por R. C. Sproul


Os reformadores estavam convencidos de que a Bíblia, por ter sua origem em Deus e ser dirigida pela inspiração dele, é infalível. Infalibilidade se refere à sua indefectibilidade, ou à impossibilidade de ela estar em erro. Aquilo que é infalível é incapaz de falir. Nós atribuímos infalibilidade a Deus e sua obra por causa de sua natureza e caráter. Com respeito à natureza de Deus ele é considerado onisciente. Com respeito a seu caráter, ele é considerado santo e inteiramente justo.

Teoricamente podemos conceber um ser que é justo, mas limitado em seu conhecimento. Tal ser poderia cometer erros em suas falas, não por causa de um desejo de enganar ou ludibriar, mas em razão de sua falta de conhecimento. Cometeria erros honestos. Em termos humanos nós entendemos que pessoas podem fazer afirmações falsas sem contar uma mentira. A diferença entre uma mentira e um simples erro está no nível da intenção. Por outro lado, podemos conceber um ser que seja onisciente, mas mau. Esse ser não poderia cometer um erro por causa da falta de conhecimento, mas poderia dizer uma mentira. Isso claramente envolveria intenção má ou maldosa. Visto, porém, que Deus é tanto onisciente como moralmente perfeito, ele é incapaz de dizer uma mentira ou cometer um erro.

Quando dizemos que a Bíblia é infalível em sua origem, estamos meramente atribuindo sua origem a um Deus que é infalível. Isto não é dizer que os escritores bíblicos foram intrinsecamente ou em si infalíveis. Foram seres humanos que, como outros humanos, provaram o axioma errare humanum est, "errar é humano". É precisamente porque os humanos são dados a erro que, para a Bíblia ser a Palavra de Deus, seus autores humanos necessitaram de ajuda em sua tarefa.

É levantada nos nossos dias a questão da inspiração da Escritura. Nesse ponto alguns teólogos têm procurado (como diz a expressão em inglês) "comer seu bolo e ainda tê-lo". Afirmam a inspiração da Bíblia, enquanto, ao mesmo tempo, negam sua infalibilidade. Argumentam que a Bíblia, apesar de sua inspiração divina, ainda erra. A ideia de erro divinamente inspirado é uma das que fazem engasgar. Recuamos horrorizados da noção de que Deus inspira erro. Inspirar erro exigiria ou que Deus não fosse onisciente ou que ele fosse mau.

Talvez o que esteja em vista na ideia de erro inspirado é que a inspiração, embora procedendo de um Deus bom e onisciente, simplesmente é ineficaz para a tarefa em mãos. Isto é, deixa de realizar o seu propósito intencionado. Nesse caso outro atributo de Deus, sua onipotência, é negociado a ponto de sumir. Talvez Deus simplesmente seja incapaz de superintender a tendência humana de errar dos autores humanos.

Certamente faria mais sentido negar a inspiração completamente do que ligar inspiração com erro. Na verdade, a maioria dos críticos da infalibilidade da Bíblia leva seus machados à raiz da árvore e rejeita a inspiração completamente. Essa parece ser uma abordagem mais honesta e lógica. Evita a impiedade de negar atributo fundamentais ao próprio Deus.

Vamos examinar rapidamente uma fórmula que tem tido alguma aceitação em nossos dias: "A Bíblia é a Palavra de Deus, que erra". Ora, vamos cancelar algumas destas palavras. Apague "A Bíblia é", de modo que se leia a fórmula: "A Palavra de Deus, que erra". Agora apague "A Palavra de" e "que". O resultado é "Deus erra". Dizer que a Bíblia é a Palavrar de Deus que erra é claramente se acomodar à fala dupla ímpia. Se é a Palavra de Deus, ela não erra. Se erra, não é a Palavra de Deus. Certamente podemos ter uma palavra sobre Deus que erra, mas não podemos ter uma palavra que erra vinda de Deus.

Que a Escritura tem sua origem em Deus é reivindicado repetidamente pela Bíblia. Um exemplo já notado se encontra na Epístola aos Romanos, de Paulo. Paulo se identifica como sendo "servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus" (Rm 1.1). Na frase "o evangelho de Deus" a palavra de é um genitivo indicando posse. Paulo está falando não meramente de um evangelho que é a respeito de Deus, mas de um evangelho pertencente a Deus. É posse de Deus e vem dele. Resumindo, Paulo está declarando que o evangelho que ele prega não vem dos homens ou de invenção humana; é dado por revelação divina. A controvérsia toda sobre a inspiração e infalibilidade da Bíblia é fundamentalmente uma controvérsia sobre revelação sobrenatural. A teologia reformada é entregue ao Cristianismo como uma fé revelada, uma fé que tem base, não em discernimento humano, mas em informação que vem a nós do próprio Deus.

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Fonte: SPROUL, R. C. O que é teologia reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, pp. 38-40.