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terça-feira, 12 de maio de 2015

9 marcas de uma igreja doente

Por Kevin DeYoung

Graças a Mark Dever, muitos de nós estão acostumados com as 9 Marcas de uma Igreja Saudável. Por mais que a intenção nunca tenha sido a de dar a palavra final sobre tudo que uma igreja deve ser ou fazer, essas nove marcas tem sido de grande ajuda ao lembrar os cristãos (e os pastores em especial) do conteúdo necessário que muitas vezes nos esquecemos por viver em uma época guiada pela estética.

De certa forma, as nove marcas de uma igreja doente poderiam simplesmente ser o oposto de tudo aquilo que torna uma igreja saudável. Assim, igrejas doentes ignoram membresia, disciplina, pregação expositiva e todo o resto. Mas os sinais dos males da igreja nem sempre são tão óbvios. É possível que sua igreja ensine e entenda todas as coisas certas e mesmo assim esteja em um estado terrivelmente doentio. Sem dúvidas, há dezenas de indicadores de que uma igreja se tornou disfuncional e doentia. Mas vamos nos limitar a nove.

Aqui estão nove marcas de que sua igreja – mesmo que acredite na Bíblia, pregue o evangelho e abrace uma boa eclesiologia – talvez esteja doente.

1. Quanto mais periférico o assunto do sermão, mais as pessoas se empolgam. Uma das coisas que eu sempre amei na minha igreja é que os sermões que eles mais amam são os que lidam com os temas mais centrais da Bíblia. Eles amam ouvir sobre pecado e salvação, sobre a glória de Deus, sobre providência, sobre Cristo e a cruz. Não é que eles nunca ouçam (ou não gostem de ouvir) sermões sobre o fim dos tempos, questões sociais, mordomia financeira, casamento ou criação de filhos, mas eles parecem mais apaixonados pelas mensagens que focam em culpa, graça e gratidão. Fico preocupado quando uma congregação se cansa de ouvir sobre a Trindade, expiação, novo nascimento ou a ressurreição e quer ouvir outra longa série sobre como lidar com stress ou as 70 semanas de Daniel.

2. A equipe ministerial da igreja não gosta de ir trabalhar. Todo emprego tem seus altos e baixos. Todo escritório terá suas tensões de tempos em tempos. Mas líderes leigos devem notar quando a equipe ministerial da igreja parece desanimada, infeliz e parecem se arrastar para igreja todos os dias. Os membros da equipe ministerial aparentam gostar de estar perto uns dos outros? Eles falam entre si como amigos? Você os vê rindo juntos? Se não, talvez haja algum desgaste, conflito ou algo pior.

3. O pastor e sua esposa não se dão bem. Eu não estou falando de eventuais discordâncias ou crises que todo casal eventualmente enfrenta. Estou falando de um casamento que se tornou frio e sem amor, um relacionamento agressivo e sem paixão. Toda igreja deveria ter algum tipo de dinâmica para questionar o pastor e sua esposa sobre como seu casamento está indo (ou se não está). Igrejas podem suportar uma grande dose de conflito, mas raramente serão lugares saudáveis e alegres se o pastor e sua esposa estão secretamente (ou abertamente) infelizes e doentes.

4. Quase ninguém sabe para onde vai o dinheiro. Igrejas lidam com suas finanças de formas diferentes. Conforme elas crescem, pode ser difícil, e até desaconselhável, que todo mundo na igreja tenha algum tipo de voto sobre a alocação de cada centavo. Entretanto, quando se trata de finanças, tender para o lado da transparência raramente é uma má ideia. No mínimo, deve haver mais do que apenas um pequeno grupo de pessoas que sabem (e decidem) para onde o dinheiro vai. Não faça do sustento do pastor uma questão de segurança nacional.

5. A liderança nunca muda, ou sempre muda. Ambos são sinais alarmantes. Por um lado, igrejas se tornam centradas em si mesmas quando nunca há sangue novo entre seus líderes. Se seus presbíteros, diáconos, líderes, pastores auxiliares, professores de EBD e líderes de música são os mesmos da época da ditadura militar, você tem um problema. Talvez os velhos líderes são gananciosos com o poder, talvez ninguém esteja sendo treinado, talvez nenhuma pessoa nova tenha se tornado membro da igreja nos últimos vinte anos. Todos esses são grandes problemas. Por outro lado, se os presbíteros nunca parecem interessados em servir mais um mandato, os líderes nunca permanecem por mais de alguns anos e os voluntários se voluntariam apenas uma vez, a cultura da sua igreja pode ser muito restritiva, muito cheia de conflitos ou muito intransigente com pequenas falhas.

6. Ninguém nunca se levanta para o ministério pastoral ou é enviado para o campo missionário. Boa pregação inspira jovens a pregar. Clareza a respeito do evangelho leva homens e mulheres a compartilhar o evangelho com aqueles que não o conhecem. Igrejas pequenas podem não enviar trabalhadores todo ano, mas a congregação que quase nunca produz pastores e missionários quase nunca é uma igreja saudável.

7. Há um gargalo no processo de decisões. Isso pode ser culpa da congregação. Alguns membros da igreja insistem em aprovar cada decisão, de contratação de funcionários à duração do culto e à proverbial cor do carpete. Se todo mundo precisa votar sobre toda decisão, sua igreja nunca será maior que o número de pessoas que pode votar em todas elas com sabedoria (o que é, normalmente, muito pequeno). Mas o gargalo também pode ser culpa do pastor. Em algumas igrejas, nada acontece sem a aprovação pessoal e supervisão direta do pastor – uma receita certa para rixas, crescimento reprimido e afastamento de líderes capacitados.

8. A pregação se tornou inconstante. Isso pode ocorrer de diversas formas. Talvez o pastor já não abra o púlpito para outros pastores da equipe ministerial e um eventual convidado. Talvez o contrário esteja acontecendo e o pastor parece estar recorrendo mais às alternativas do que deveria. Talvez a pregação tenha se tornado mais agressiva, talvez sempre bata na mesma tecla ou mostra sinais de falta de preparação. Talvez você tenha notado que o pregador está cada vez mais dependente de vídeos projetados ou esboços de sermão pré-preparados, ou constantemente reaproveita sermões de pouco tempo atrás. Ninguém quer que a pregação seja entediante. Alguma variação é esperada e bem-vinda. Mas tente observar mais de perto se os pregadores parecem doutrinariamente instáveis, irritados ou exaustos.

9. Há problemas que todo mundo sabe mas que ninguém fala abertamente. Igrejas doentes muitas vezes tem uma grande regra informal: a pessoa que fala dos nossos problemas é o problema. Pode ser um pastor que não sabe pregar, um pianista que sempre sai na hora do sermão, um presbítero que aparenta ter problemas matrimoniais, um líder de jovens que não sabe falar com os mais novos, um diácono que não parece se dar bem com ninguém ou um líder que lidera por força e intimidação. Claro, muitos problemas devem ser resolvidos de forma privada e discreta, mas isso não é desculpa para varrer para debaixo do tapete o que é claro e visível para todos. Lidar com o que todo mundo sabe é, muitas vezes, o primeiro passo para minar o poder de um problema.

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Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério ­ The Gospel Coalition.

Fonte: Reforma 21

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Principais conceitos na espiritualidade reformada


  Por Michael Horton


1. União com Cristo
Toda doutrina relacionada à salvação e à vida cristã deve ser orientada em torno dessa pedra de toque da fé. Nenhuma teoria de crescimento ou desenvolvimento cristão pode obscurecer ou ignorar esse fato central. Na espiritualidade reformada, o objetivo e o subjetivo, o exterior e o interior, estão ligados inseparavelmente por essa realidade. “Em Cristo” somos justificados e estamos sendo santificados.

2. Justificação pela Fé Somente
“Declarado justo”: essa expressão jurídica é o cerne das Boas Novas. Se buscarmos obter o favor divino por meio da nossa vontade ou do nosso correr, terminaremos rapidamente com a justiça própria ou o desespero. O progresso na obediência vem somente à medida que reconhecemos Cristo como sendo nossa justiça, santidade e redenção.

3. Santificação
Eis aqui outra palavra bíblica essencial. Uma vez declarado justo pela imputação da justiça de Cristo, agora crescemos em justiça pessoal em união com Cristo e Sua justiça. Em nossa salvação, não contribuímos com nada, exceto o nosso pecado. Mas uma vez regenerados pela graça de Deus (à parte da nossa cooperação), estamos livres para cooperar com o Espírito Santo pela primeira vez. A santificação, portanto, diferente da regeneração, justificação, etc., requer a nossa energia e participação. Crescemos na graça e no conhecimento de Cristo, ativamente animados pelo evangelho. Tanto a justificação como a santificação são dom de Deus, em virtude da nossa união com Cristo.

4. Chamado/Vocação
Também relacionado ao “sacerdócio de todos os crentes”, essa doutrina reformada enfatiza o fato que tudo o que fazemos honra a Deus se o fizermos em fé. Um lixeiro não é menos espiritual que um missionário. Deus criou cada um de nós com certos dons e nós devemos encontrar significado e realização não somente nas coisas relacionadas à igreja, mas em nosso trabalho e lazer também. Essa doutrina, mais do que qualquer outra, foi responsável pelo que veio a ser identificado como “a ética protestante de trabalho”.

5. Sacramentos
Batismo e Santa Ceia, na espiritualidade reformada, figuram proeminentemente como “meios de graça”. Batismo é o começo da nossa vida em Cristo, e na Santa Ceia nos alimentamos de Cristo – o Pão da Vida – ao longo da nossa jornada no deserto

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Fonte: Revista Modern Reformation, Volume 5, Número 6, Nov/Dez 1996.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

Via: Monergismo

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A incapacidade de vir a Cristo


Por Robert Murray M'Cheyne

 

Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (João 6.44) 

Quão surpreendente é a depravação do homem natural! 
As Escrituras nos ensinam isso abundantemente. Todo pastor fiel levanta a sua voz como uma trombeta, para mostrar isto às pessoas. E a primeira obra do Espírito Santo, no coração, é convencer do pecado. 

Na Palavra de Deus, não existe uma descoberta mais terrível sobre a depravação do homem natural do que estas palavras do evangelho de João. Davi afirmou: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Deus falou por meio do profeta Isaías (48.8): “Eu sabia que procederias mui perfidamente e eras chamado de transgressor desde o ventre materno”. E Paulo disse: “Éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). Mas nesta passagem de João somos informados de que a incapacidade do homem natural e sua aversão por Cristo são tão grandes, que não podem ser vencidas por qualquer outro poder, exceto o poder de Deus. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.44). Nunca houve um mestre como Cristo. “Jamais alguém falou como este homem” (Jo 7.46). Ele falava com muita autoridade, não como os escribas, mas com dignidade e poder celestial. Ele falava com grande sabedoria. Falava a verdade sem qualquer imperfeição. Seus ensinos eram a própria luz proveniente da Fonte de Luz. Ele falava com bastante amor, com o amor dAquele que estava prestes a dar a sua vida em favor de seus seguidores. Falava com mansidão, suportando a ofensa contra Ele mesmo vinda dos pecadores, não ultrajando quando era ultrajado. Jesus falava com santidade, porque era Deus “manifestado na carne”. Mas tudo isso não atraía os seus ouvintes. Nunca houve um dom mais precioso oferecido aos homens. “O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá... Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.32, 35). O Salvador de que as pessoas condenadas necessitavam estava diante delas. Sua mão lhes foi estendida. Ele estava ao alcance delas. O Salvador ofereceu-lhes a Si mesmo. Oh! Que cegueira, dureza de coração, morte espiritual e impiedade desesperadora existem na pessoa não-convertida! Nada pode mudá-la, exceto a graça do Todo-Poderoso. Ó Homem destituído da graça de Deus, seus amigos o advertem, os pastores clamam em voz alta, a Bíblia toda o exorta. Cristo, com todos os seus benefícios é colocado diante de você. Todavia, a menos que o Espírito Santo seja derramado em seu coração, você permanecerá um inimigo da cruz de Cristo e destruidor de sua própria alma. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”. 

Quão invencível é a graça de Jeová! 
Nenhuma criatura tem o poder de atrair o homem a Cristo. Exibições, evidências miraculosas, ameaças, inovações são usadas em vão. Somente Jeová pode trazer a alma a Cristo. Ele derrama seu Espírito com a Palavra e a alma sente-se alegre e poderosamente inclinada a vir a Jesus. “Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder” (Sl 110.3). “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14.) “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21.1). 

Considere um exemplo: um judeu estava assentado na coletoria, próxima à porta de Cafarnaum. Sua testa estava enrugada com as marcas da cobiça, e seus olhos invejosos exibiam a astúcia de um publicano. Provavelmente ele ouvira falar de Jesus; talvez o tivesse ouvido pregando nas praias do mar da Galiléia. Mas seu coração mundano ainda permanecia inalterado, visto que ele continuava em seu negócio ímpio, assentado na coletoria. O Salvador passou por ali e, olhando para o atarefado Levi, disse-lhe: “Segue-me!” Jesus não disse mais nada. Não usou qualquer argumento, nenhuma ameaça, nenhuma promessa. Mas o Deus de toda graça soprou no coração do publicano, e este se tornou disposto. “Ele se levantou e o seguiu” (Mt 9.9). Agradou a Deus, que opera todas as coisas de acordo com o conselho da sua vontade, dar a Mateus um vislumbre salvador da excelência de Jesus; a graça caiu do céu no coração de Mateus e o transformou. Ele sentiu o aroma da Rosa de Sarom. O que significava o mundo agora para ele? Mateus não se importava mais com os lucros, os prazeres e os louvores do mundo. Em Cristo, ele viu aquilo que é mais agradável e melhor do que todas essas coisas do mundo. Mateus se levantou e seguiu a Jesus. 

Aprendamos que uma simples palavra pode ser abençoadora à salvação de almas preciosas. Frequentemente somos tentados a pensar que tem de haver algum argumento profundo e lógico para trazer as pessoas a Cristo. Na maioria das vezes colocamos nossa confiança em palavras altissonantes. No entanto, a simples exposição de Cristo aplicada ao coração pelo Espírito Santo vivifica, ilumina e salva. “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Se o Espírito age nas pessoas, estas simples palavras: “Segue a Jesus”, faladas em amor, podem ser abençoadas e salvar todos os ouvintes. 

Aprendamos a tributar todo o louvor e glória de nossa salvação à graça soberana, eficaz e gratuita de Jeová. Um falecido teólogo disse: “Deus ficou tão irado por Herodes não lhe haver dado glória, que o anjo do Senhor feriu imediatamente a Herodes, que teve uma morte horrível. Ele foi comido por vermes e expirou. Ora, se é pecaminoso um homem tomar para si mesmo a glória de uma graça tal como a eloquência, quão mais pecaminoso é um homem tomar para si a glória da graça divina, a própria imagem de Deus, que é o dom mais glorioso, excelente e precioso de Deus?” Quantas vezes o apóstolo Paulo insiste, em Efésios 1, que somos salvos pela graça imerecida e gratuita? E como João atribui toda a glória da salvação à graça gratuita do Senhor Jesus — “Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados... a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (Ap 1.5, 6). Quão solenes foram as palavras de Jonathan Edwards, em sua obra Personal Narrative (Narrativa Pessoal)! “A absoluta soberania e graça gratuita de Deus, em demonstrar misericórdia àquele para quem Ele quer expressar misericórdia, e a absoluta dependência do homem quanto às operações do Espírito Santo têm sido para mim, frequentemente, doutrinas gloriosas e agradáveis. Estas doutrinas têm sido o meu grande deleite. A soberania de Deus parece-me uma enorme parte de sua glória. Tenho sentido deleite constante em aproximar-me de Deus e adorá-Lo como um Deus soberano, rogando-Lhe misericórdia soberana”. 

Ao sentir-me à graça um grande devedor 
Sou constrangido sempre, a todo instante! 
Que esta graça, com algemas, meu Senhor, 
Prenda somente a Ti meu coração hesitante. 
 
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Robert Murray M’Cheyne (1813-1843) foi ministro de St Peter’s Church Dundee, Escócia (1836-1843). Foi um piedoso pastor evangélico e evangelista com grande amor pelas almas.
 
Fonte: Os Puritanos

terça-feira, 28 de abril de 2015

A Confissão de Fé de Westminster e o Princípio Regulador do Culto


Por Marcos Granconato

 

INTRODUÇÃO
O tema da presente monografia encerra uma das maiores necessidades da igreja moderna, a saber, a necessidade de um princípio fixo que regule os atos do culto prestado a Deus por seu povo.

Num tempo em que tão-somente o homem é o alvo de preocupação de diversos líderes religiosos, quando elaboram a ordem e a forma que o culto por eles ministrado deve tomar, mister se faz que recordemos a elementar verdade de que o culto cristão deve ser prestado ao Deus Trino, tendo como preocupação mais elevada agradar a ele só, assumindo, para isso, a forma que ele próprio estabeleceu na sua santa Palavra.

Infelizmente, é assustador como verdades tão elementares, tão óbvias quanto antigas, tenham se tornado objeto de descaso e até de ataque por parte dos incontáveis proponentes de um culto antropocêntrico que, para multiplicar adeptos, dispõe-se a sacrificar tudo o que incomode o homem e a trazer para a liturgia qualquer coisa que o entretenha.

Assim, em face de um quadro tão medonho, cujas cores se alastram com intensa velocidade atingindo até mesmo as denominações históricas antes conhecidas por seu cuidado nas questões ligadas ao culto, é fundamental que nos voltemos para o que foi conhecido entre os teólogos reformados como o Princípio Regulador do Culto.

Este trabalho terá, portanto, tal princípio como seu tema central. Formulando uma definição do que seja precisamente o Princípio Regulador, a monografia seguirá dando especial enfoque à sua necessidade e importância, bem como à solidez dos fundamentos teológicos sobre os quais foi construída a norma que deve reger todos os nossos atos de adoração.

Antes de tratar diretamente do tema principal, a monografia apresentará algumas informações históricas referentes à Confissão de Fé de Westminster que, em seu artigo XXI, deu forma definitiva ao princípio já constante, como veremos, dos escritos do próprio João Calvino.

A conclusão do trabalho constará de uma análise crítica da presente situação da igreja no tocante à forma de culto e, em meio a uma breve recapitulação, demonstrará a urgente necessidade atual da aplicação do antigo Princípio Regulador do Culto, marca das igrejas reformadas de outrora.

O método usado para a produção desta monografia foi a pesquisa bibliográfica de fontes primárias e secundárias.

2. A CONFISSÃO DE WESTMINSTER - BREVE HISTÓRICO
Desde muito cedo, a igreja cristã desenvolveu a prática de formular declarações de fé com o propósito de fixar o que deve ser considerado correto em matéria doutrinária. Nos tempos da Reforma, porém, quando o campo de controvérsia doutrinária se estendeu até o ponto de surgirem diferentes grupos eclesiásticos, essa prática tornou-se ainda mais acentuada, com as diversas igrejas protestantes apresentando o que criam ser a formulação correta acerca dos inúmeros artigos de fé. Foi nesse contexto que surgiu a confissão de que trata esta seção.

A Confissão de Fé de Westminster foi redigida por uma assembléia de teólogos reunida em Westminster por convocação do parlamento inglês, em 1643. O objetivo da referida assembléia era preparar um esquema de uniformidade da religião em face da então recente união entre Inglaterra e Escócia.

Concluída em 26 de novembro de 1646, a Confissão de Fé de Westminster, juntamente com outras formulações como a Forma de Governo da Igreja, o Diretório do Culto e os Catecismos Maior e Menor, forneceram a base para uma igreja presbiteriana unida nas duas partes do Reino Unido.

Apesar de o alvo da uniformidade ter sido frustrado com a restauração da monarquia dos Stuarts, em 1661, a qual restabeleceu o episcopado na Inglaterra, a Confissão de Westminster continuou sendo reconhecida como a principal norma subordinada da Igreja da Escócia e a formulação doutrinária mais amplamente aceita pelos presbiterianos da Inglaterra, Escócia e, mais tarde, dos Estados Unidos.

Nos dias modernos, a Confissão não ocupa mais o mesmo lugar no pensamento da igreja que ocupou no passado. Várias mudanças no seu texto têm sido propostas, inúmeros dos seus artigos têm sido rejeitados por um vasto número de teólogos e diferentes interpretações de algumas de suas afirmações têm sido apresentadas. De fato, até mesmo o ideal de uma nova confissão tem sido acalentado por pastores e líderes de destaque dentro da Igreja Presbiteriana ao redor do mundo.

Todas essas reações, porém, resultam de um princípio estabelecido pela própria Confissão, a saber, a verdade de que todos os sínodos e concílios podem errar (CFW XXXIII, 3) , estando suas formulações, portanto, sempre sujeitas a revisão e reforma. Isso ilustra o fato de que, tanto para aqueles que a aceitam como para os que a criticam, a Confissão de Fé de Westminster estabeleceu fundamentos preciosos para o desenvolvimento da teologia como tal, sendo esses fundamentos intocáveis como ponto de partida para o pensamento protestante nas suas mais diversas expressões.

Um outro exemplo de "fundamento intocável", como o descrito acima, encontra-se, sem dúvida, no chamado Princípio Regulador do Culto, como será visto a seguir.

3. O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO
Emana do Capítulo XXI da Confissão de Fé de Westminster, o que convencionou-se chamar de Princípio Regulador do Culto. O primeiro artigo do mencionado capítulo estabelece, in verbis:

A luz da natureza nos ensina que há um Deus, que exerce senhorio e soberania sobre tudo, que é bom e faz o bem a todos, e que por isso deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido de todo coração, e servido com toda a alma e com todas as forças; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus foi instituído por ele mesmo, e de tal modo determinado por sua vontade revelada, que não se deve adorar a Deus conforme as imaginações e invenções dos homens ou as sugestões de Satanás, sob alguma representação visível ou de outro modo que não seja o prescrito na Santa Escritura.

A partir do artigo acima transcrito, e estendendo-se até o capítulo seguinte, a Confissão apresenta o dever do homem para com Deus exposto na primeira tábua da Lei de Moisés. Esse dever talvez possa ser resumido na palavra "culto" que, basicamente, denota a atitude e comportamento adequados diante da divindade, os quais são expressos em atos formais de veneração.

Conforme estabelece a Confissão, o dever de culto se fundamenta, inicialmente, na existência de um Deus soberano e bom, existência essa percebida graças à luz da natureza. Não basta, porém, ao homem, ter conhecimento do seu dever de adorar o Deus Soberano. É-lhe necessário também saber como adorá-lo. Ora, o conhecimento dessa matéria não advém da análise do universo criado, ma sim do que foi revelado pelo Espírito Santo na Sagrada Escritura, a qual, se for cuidadosamente observada, impedirá que o homem caia no erro e na superstição ao tentar adorar o Criador como melhor lhe convier.

É precisamente nesse ponto que a Confissão de Fé de Westminster oferece elementos para o enunciado do Princípio Regulador do Culto. Tal princípio deve ser formulado a partir do fato de que somente o verdadeiro Deus pode determinar o modo como importa ser adorado. Isso somado ao conceito cristão da Escritura possibilita a construção de um conceito objetivo daquilo que chamamos de Princípio Regulador, possível de ser detectado no texto da Confissão. A importância e base teológica desse princípio também devem ser consideradas.

3.1 CONCEITO
A expressão "princípio regulador do culto" denota a existência de um valor básico e imutável que deve ser protegido enquanto se realiza qualquer ato formal de adoração. A proteção desse valor implica a observância de uma norma geral que rege o culto e lhe dá forma. Esse preceito básico impõe limites ao adorador, impedindo-o de, levado pelos ditames de sua consciência depravada, apresentar diante de Deus qualquer coisa que não corresponda à sua natureza e vontade.

O valor básico e imutável a ser protegido no campo da adoração é o "direito" exclusivo de Deus de determinar o modo como deve ser cultuado. A regra básica que protege esse valor pode ser formulada da seguinte maneira: nada pode ser praticado durante o culto a Deus que não tenha sido expressamente estabelecido e determinado por ele próprio nas páginas da sua revelação escrita. É a essa regra básica que convencionou-se chamar "Princípio Regulador do Culto".

Já em Calvino (1509-1564) é possível encontrar a adoção desse princípio. Nas suas Institutas, onde se insurge contra os abusos da igreja de seu tempo, o reformador ensina que somente a Deus compete estabelecer o modo como importa ser adorado. Diz ele:

De ter-se em mente, ademais, é que as superstições freqüentemente se referem nestes termos, que são obras das mãos dos homens, e carecem da divina autoridade, para que seja isto estabelecido: que são abomináveis todas as formas de culto que os homens inventam de si próprios.

Logo a seguir, Calvino escreve:
Deus, porém, para que a si vindique seu direito, se proclama ser zeloso e haver de ser severo vingador, se com qualquer deidade fictícia se mesclar. Então, para que lhe mantenha o gênero humano em obediência, define seu legítimo culto. A um e outro desses aspectos enfeixa em sua Lei, quando, primeiramente, a si adjudica os fiéis, a fim de ser-lhes o legislador único, depois, prescreve a regra segundo a qual seja devidamente cultuado, conforme seu alvedrio.

Que Calvino via a Escritura como a fonte de informação acerca da maneira como deve realizar-se o culto fica claro a partir das citações acima e também do que ensina logo a seguir, ao enunciar que "mediante sua Lei, quis ele [Deus] prescrever aos homens que seja justo e reto e, destarte, adstringi-los a uma norma precisa, para que ninguém se permitisse forjar expressão cultual qualquer que seja".

Assim, o Princípio Regulador do Culto, conforme ensinado por Calvino e, posteriormente, fixado pela Confissão de Fé de Westminster, pode ser conceituado como o preceito que reserva exclusivamente a Deus a liberdade e poder para determinar o modo como o seu culto deve ser realizado, sendo tais determinações reveladas de forma clara, detalhada e específica na Bíblia.

Esse princípio é o que separa os cristãos reformados de outros protestantes. Enquanto luteranos, anglicanos e evangélicos em geral ensinam que as igrejas podem fazer tudo o que a Palavra de Deus não proíbe expressamente, os reformados defendem que as igrejas podem fazer somente o que a Escritura ordena.

3.2 IMPORTÂNCIA
O culto cristão tem como uma de suas mais tocantes marcas a espontaneidade do adorador. O crente não cultua a Deus movido somente pelo dever. Ele o faz também porque tem prazer nisso. George S. Hendry lembra que "o culto que os cristãos oferecem a Deus, não somente como dever, mas como prazeroso privilégio, é uma resposta à experiência especificamente cristã da salvação". Assim, o culto cristão é um reflexo da consciência que o crente tem do que foi feito por Deus a seu favor.

Isso, por si só, embasa a afirmação de que a adoração cristã deve ser espontânea, alegre, sincera e livre de restrições estéreis, oriundas de tradições e costumes humanos. Contudo, a liberdade com que, movido pela gratidão, o crente deve cultuar a Deus não deve ser uma liberdade sem fronteiras. Uma liberdade assim descambaria na mais completa desordem, toleraria excessos por parte de pessoas inclinadas à indecência e daria ao adorador a suposta prerrogativa de servir o Deus santo por meio de atos que desconsiderassem a sua natureza, caráter e vontade.

Disso tudo se depreende a importância do reconhecimento de um princípio que, à luz da Escritura, regule os atos formais de busca, louvor e serviço a Deus. Ademais, a história eclesiástica corrobora a tese de que o princípio aqui tratado é de importância vital para a manutenção da própria pureza do cristianismo.

De fato, ao tempo em que a Confissão de Westminster foi elaborada, a maior expressão de culto inaceitável era encontrada na veneração de imagens, praticada especialmente na Igreja Católica Romana. O próprio texto da Confissão revela que esse era o desvio que os teólogos de Westminster tinham em mente quando deram forma clássica ao Princípio Regulador. De fato, assim se pronunciaram: "Não se deve adorar a Deus conforme as imaginações e invenções dos homens ou as sugestões de Satanás, sob alguma representação visível...". É, pois, evidente que, num primeiro momento, o Princípio Regulador foi ressaltado no afã de demonstrar a impiedade manifesta no culto das imagens.

Ocorre, porém, que aquela norma que impõe limites ao culto cristão revela-se preciosa não só como base sólida para a rejeição das imagens, mas também como um padrão fixo por meio do qual o crente pode medir qualquer prática ou costume que se insinue no culto a Deus ao longo dos séculos.

É, portanto, com o Princípio Regulador do culto em mente que o líder cristão moderno poderá considerar, por exemplo, se a coreografia ou outras formas de expressão corporal devem ou não ser aceitas no culto pelo qual ele é responsável. Por outro lado, a ausência de um princípio por meio do qual possam ser avaliadas práticas como a mencionada, deixará o ministro de Deus à mercê de sua própria consciência e sem força de argumentos para resistir à pressão de indivíduos que pretendem fazer do culto um mero período de descontração.

Não é, contudo, somente na esfera cultual que o Princípio Regulador do Culto mostra sua imensurável importância. Também nas diversas situações da vida, seja em família ou no desempenho de seus deveres de cidadão, a idéia que subjaz o Princípio Regulador, a saber, só é aceitável o que Deus requer, determinará, quando instalada na mente do crente, a forma como devem ser construídas suas convicções, bem como o modo como deverá agir.

D. G. Hart e John R. Meuther escreveram um artigo no qual narram um episódio curioso na vida do eminente teólogo J. Gresham Machen (1881-1937). O artigo fala da oposição que ele sofreu por parte da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos quando, em 1926, foi indicado para ocupar a cadeira de Apologética no Seminário de Princeton. Hart e Meuther chamam a atenção para o fato de que a resistência foi devido a Gresham Machen se ter posicionado contra uma resolução do Presbitério de Nova Jersey que endossava a Décima Oitava Emenda a qual, de 1919 a 1933, proibiu a venda, manufatura e transporte de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos.

Segundo o entender dos autores do referido artigo, Machen, na defesa de sua posição, baseava-se no Princípio Regulador, pelo qual o que é expressamente permitido por Deus nas Escrituras é aceitável. Ora, a Bíblia, ainda que condene a embriaguez, admite o uso de bebida alcoólica, não podendo, portanto, a igreja atar os crentes com as correntes da abstinência total quando o próprio Deus não o faz. A conclusão a que chega o artigo é que "o Princípio Regulador se aplica não somente à adoração, mas a todos os aspectos da vida e testemunho da igreja".

Disso tudo decorre a importância do Princípio Regulador do Culto. Na sua falta, não somente o vício se insinua com facilidade no culto cristão, mas também outras áreas do viver ficam à mercê da falível consciência humana, a qual, quando não peca por fazer concessões demais, erra por impor jugos sobre os homens que ultrapassam aquilo que o Senhor requer de nós.

3.3 FUNDAMENTOS TEOLÓGICOS
É do próprio Artigo primeiro do Capítulo XXI da Confissão de Fé de Westminster que constam os fundamentos teológicos do Princípio Regulador do Culto. Pode-se reduzi-los a três, a saber: o senhorio e soberania de Deus sobre tudo; o dever do homem de buscar, servir e adorar a Deus de forma aceitável; e o fato de Deus ter revelado sua vontade na Palavra.

A Confissão de Westminster declara que a luz da natureza revela a existência de um Deus soberano. De fato, a chamada revelação geral, a qual inclui em seus aspectos a própria consciência humana, aponta para a existência de um criador, preservador e benfeitor soberano (Sl 19.1-6; At 17.24-25; Rm 1.19-20) . Dessa mesma fonte se depreende que esse ser é o governador moral absoluto, a quem todos os seres pessoais devem temer e adorar, o que é testificado universalmente pelo pensar e agir de todas as nações em todas as épocas (At 17.23; Rm 2.14-15) .

Uma vez admitida a existência de um soberano Senhor, o dever de buscá-lo, servi-lo e adorá-lo de maneira que lhe seja aceitável é a verdade a que se chega com fácil e breve reflexão. A Escritura Sagrada é pródiga nas insistências de que o homem deve adorar a Deus, sendo-lhe devedor perpétuo de louvor, obediência e serviço, tudo isso feito com inteireza de coração e empenho absoluto da totalidade de suas forças (Sl 31.23; 150; Jr 10.7; Mt 22.37-38; Jo 4.24) .

Sendo Deus o Senhor soberano a que se deve honrar de maneira que lhe agrade, resta ao homem a tarefa de descobrir em que Deus se compraz quando está a ser cultuado e adorado. Ora, essa descoberta não pode ser feita quando o homem vasculha sua consciência, sua imaginação, suas inclinações pessoais ou mesmo o exemplo de povos, antigos ou contemporâneos, que seguiram os impulsos da criatividade humana para estabelecer suas cerimônias religiosas em honra à divindade. Por isso, sendo infinitamente misericordioso e não podendo deixar o homem à mercê de seus impulsos naturais numa matéria de tão elevada importância, o Senhor revelou-lhe em sua Palavra não somente seu caráter e obras, mas também sua vontade, a qual abrange determinações que devem ser observadas no culto de sua santíssima Pessoa.

O eminente teólogo Archibal Alexander Hodge, comentando esse ensino, escreve:

Pode haver sucedido que, no estado natural do homem e em suas relações morais com Deus antes da queda, sua razão natural, sua consciência e instinto religioso tenham sido suficientes para dirigi-lo nesse culto e serviço. Mas quando sua natureza moral se corrompeu, seu instinto religioso se perverteu e suas relações morais com Deus se transtornaram em razão do pecado, é evidente que se fez necessária uma revelação que não somente dissesse aos homens o que Deus admitiria no culto, mas que também prescrevesse os princípios e métodos debaixo dos quais tal serviço e adoração deveriam ser oferecidos.

Assim, na Sagrada Escritura, a revelação a que se refere Hodge, aprendemos que o culto ao Deus verdadeiro não deve ser maculado com o uso de imagens de escultura (Ex 20.4-6) ; que tal culto se torna vão quando mesclado com ensinamentos que não passam de regras inventadas por homens (Mt 15.8-9; Cl 2.20-23) ; que o Deus trino é o alvo exclusivo da adoração, não podendo o louvor dos adoradores ser dirigido a nenhum outro (Mt 4.10) ; que o culto cristão dispensa o valor dado a templos de madeira e pedra (Jo 4.21-23) ; que a adoração deve partir do íntimo do indivíduo, sendo verdadeira e sincera (Jo 4.24) ; que o culto deve ocorrer num ambiente marcado por decência e ordem (1Co 14.40); que o crente que cultua deve ter a alma mergulhada em reverência e santo temor (Hb 12.28-29) ; e que o culto genuíno deve ser oferecido a Deus por meio de um mediador, o qual é Jesus Cristo (Ef 2.18; 1Tm 2.5) .

A totalidade dessas prescrições, como se vê, baseia-se na Sagrada Escritura, sendo todas elas, quando postas em prática, demonstrações notáveis da aplicação do Princípio Regulador do Culto contemplado nas páginas da Confissão de Fé de Westminster.

CONCLUSÃO:
A igreja moderna não sofre em virtude da ausência de um princípio que informe o modo como o culto cristão deve ser realizado. Ela sofre, isto sim, com a aplicação de um princípio regulador equivocado.

O princípio regulador adotado pela maior parte das igrejas da modernidade, diferentemente do defendido pelos teólogos puritanos de Westminster, não se fundamenta na natureza de Deus, nem nas prescrições da Sagrada Escritura. Antes, foi construído a partir dos anseios do coração humano e sob os ditames das marcas culturais do presente século.

O novo princípio pode ser enunciado da seguinte maneira: todo ato de adoração deve ter como alvo central a promoção de sensações agradáveis no ser humano, sendo expressamente inaceitável qualquer gesto cultual que milite contra isso. Evidentemente, à luz desse novo princípio, a expectativa humana determina o formato do culto, dando-se especial atenção aos valores, práticas e apelos que o homem moderno considera interessantes e atraentes.

No mar de variedades que surge a partir desse modo de pensar, a única exigência que deve subjazer qualquer prática é a sinceridade. Assim, tudo que o adorador quiser realizar no culto a Deus lhe é permitido desde que o faça livre de hipocrisia. A sinceridade é assim o fator exclusivo que legitima qualquer prática cultual, segundo a atual visão antropocêntrica.

É urgente, portanto, que os homens de Deus, na direção de seus rebanhos, resgatem o antigo Princípio Regulador do Culto detectado na Bíblia pelos reformadores e pelos teólogos puritanos de Westminster. É preciso que apresentem ao povo o seu conceito que consiste na determinação de que nada pode ser praticado durante o culto a Deus que não tenha sido expressamente estabelecido e determinado por ele próprio nas páginas da sua revelação escrita.

Ademais, a importância desse princípio tanto para a avaliação do que deve ser admitido no culto como para a fixação de convicções acerca de inúmeros temas relativos à vida cristã deve ser demonstrado aos santos por intermédio do ensino doutrinário, da aplicação prática e da alusão a dados da história da igreja.

Também os fundamentos doutrinários do Princípio Regulador do Culto devem ser apontados como forma de mantê-lo firmado sobre sólidos alicerces. Tais fundamentos, reduzidos aqui a três (o senhorio e soberania de Deus sobre tudo; o dever do homem de buscar, servir e adorar a Deus de forma aceitável; e o fato de Deus ter revelado sua vontade na Palavra) precisam voltar a formar o tripé sobre o qual se sustenta não só o Princípio Regulador, mas toda a igreja em questões de fé e prática.

Resgatado o Princípio Regulador do Culto nos termos definidos em Westminster, talvez pouco espaço continue e existir na igreja para o uso tão comum de coreografias, homenagens a este ou aquele indivíduo (pastores, líderes, políticos, etc.), espontaneidade desregrada, apresentações humorísticas, supostos exorcismos e inúmeras outras práticas carentes de amparo bíblico.

O culto público é o meio pelo qual a igreja manifesta de forma mais notável o conteúdo da sua fé. É também o momento em que, reunida, oferece a Deus uma resposta àquilo que sabe que ele é e tem feito. Isso tudo faz do culto uma das facetas mais importantes do viver cristão. Não se pode, portanto, negligenciá-lo sem que se sofra imenso prejuízo. Por isso, o Princípio Regulador do Culto deve ser resgatado. Mantê-lo no esquecimento pode significar, talvez em curto prazo, a perda da própria identidade cristã. 

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 1994. p. 110.

CALVINO. João. As institutas ou tratado da religião cristã. Vol 1. Traduzido por Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985. p. 119.

HART, D. G. e MEUTHER, John R. J. Gresham Machen e o Princípio Regulador. http://www.monergismo.com/. Traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto.

HENDRY. George S. La Confessión de Fe de Westminster para el día de hoy. Traduzido para o espanhol por Jorge Lara-Braud. Bogotá, Colômbia: CCPAL, 1965. p. 196. Tradução pessoal.

HODGE. Archibal Alexander. Comentário de la Confesion de Fe de Westminster. Barcelona: CLIE, 1987. p. 251. Tradução pessoal.